Mesmo com a curva ascendente de mortos e contaminados pelo novo coronavírus no Brasil e no mundo, desde o início o Presidente da República jamais reconheceu a letalidade da doença. Jair Bolsonaro sempre pressionou governadores e prefeitos a não reduzirem as atividades econômicas e entrou em colisão com vários deles que optaram por medidas mais rígidas de isolamento social.
Diante disso, muitos chefes de Executivos estaduais e municipais não interromperam a circulação de pessoas, como recomendavam as autoridades sanitárias. A consequência foi o crescimento exponencial de casos, colocando o Brasil em segundo lugar em número de vítimas da covid-19. Fica atrás, apenas, dos Estados Unidos, onde o também negacionista Donald Trump adota a mesma postura.
Quem mais sofre com a reabertura total são os trabalhadores da linha de frente do combate à pandemia e dos serviços essenciais. Os enfermeiros são os que têm tido os maiores índices de contaminação e mortes.
Um levantamento do Observatório da Enfermagem, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), aponta que, de 14 de março a 14 de julho, o DF contabilizou 651 casos confirmados e quatro óbitos.
Na Região Centro-Oeste, são 1.596 casos, 20 óbitos e uma taxa de letalidade 2,30%. No Brasil, até 14/7, havia mais de 26 mil enfermeiros contaminados, 267 óbitos, 25.365 em quarentena, 396 internados. E uma taxa de letalidade de 2,09%.
Os médicos, por sua vez, tiveram mais sorte. O Conselho Regional de Medicina (CRM) informa que, no DF, 168 médicos foram contaminados e dois morreram. “Contudo, ambos já eram mais velhos e não estavam mais atuando na medicina”, disse a assessoria de comunicação do CRM.
O SindMédico informou que a lista de contaminação e óbitos do CRM é sempre desatualizada porque a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) só classifica os trabalhadores da área como “profissionais da saúde”. “O CRM tentou determinar isso por meio de consulta direta, via Internet, mas não deu certo. Não temos conhecimento de óbito de médico por covid-19 que tenha sido por contaminação em trabalho”, informa o SindMédico-DF.
O sindicato tem feito vistorias e cobrado a distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), já denunciou o fornecimento de EPI fora das especificações de segurança, obteve na Justiça decisão liminar garantindo a testagem quinzenal prevista na Lei nº 6.554, de 23 de abril de 2020, e suspensa pela Nota Informativa nº 9/2020 da Secretaria de Saúde, de 8 de junho.
“Também fez gestão junto à Secretaria de Saúde e continua fazendo junto ao Iges-DF para que seja emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho nos casos de contaminação de profissional pela covid-19 em exercício de atividade laboral”.