Sábado (17), completa quatro anos que o pequeno Posto da Torre, no Setor Hoteleiro Sul de Brasília, deixou o anonimato para ganhar as manchetes dos jornais de todo o País. Às 6h da manhã daquela segunda-feira de março de 2014, a Polícia Federal desencadeou um esquema para desarticular uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro. O alvo central era o empresário Carlos Habib Chater, dono do posto. Daí a operação ter sido batizada de Lava Jato.
O que os investigadores não poderiam imaginar era que aquela apuração fosse a ponta do novelo do maior escândalo de corrupção da história do Brasil. Paralelamente à prisão de Carlos Chater, foram abertas averiguações de outras organizações que movimentavam recursos ilícitos. Mesmo com esses desdobramentos, o nome inicial se consagrou e é utilizado até hoje.
Além de Chater, foram detidos, posteriormente, os doleiros Alberto Youssef, Nelma Kodama e Raul Henrique Srour, que formavam uma rede de lavagem de dinheiro. No decorrer das investigações descobriu-se que ela era utilizada para operacionalizar o pagamento de propinas a agentes públicos e políticos envolvendo contratos da Petrobras.
Chater ficou quase três anos preso no Paraná antes de ir para o regime aberto. Voltou a Brasília para ser dono novamente do posto. Procurado pelo Brasília Capital, não foi localizado no estabelecimento. Os atuais funcionários têm menos de quatro anos no emprego, e nenhum vivenciou o início da Operação. O clima entre os novatos é de silêncio total. O único remanescente não quis falar sobre o assunto.
Questionados sobre a fama do local, os trabalhadores se limitam a dizer que “os clientes lembram do assunto, mas o que podemos fazer é rir e depois trabalhar”.
Só em dinheiro
Na época, o pagamento na compra de combustíveis no Posto da Torre só era aceito em dinheiro, para, segundo o Ministério Público Federal, facilitar a lavagem das verbas irregulares. Atualmente, são aceitos à vista, e nos cartões de débito e de crédito. No entanto, quem paga no método antigo ou no débito, agora, consegue desconto de R$ 0,10 a R$ 0,12 no litro da gasolina.
Hoje, funcionam 16 bombas de combustível, uma loja de conveniência, uma lanchonete e uma lavanderia. No passado, também foi sede de uma casa de câmbio que, de acordo com a PF, era usada para lavar dinheiro.
O aposentado Benedito Augusto de Sousa é cliente assíduo do posto mesmo antes da fama. “Sempre abasteci aqui. Percebi que depois da Lava Jato o movimento aumentou, e o preço da gasolina também”, diz. Para ele, a Operação “é um sucesso”.
Sousa aguarda que outros políticos e empresários sejam presos. “A luta é por um país menos corrupto, pois a corrupção não está apenas na Lava Jato. Tem mais gente que deveria estar na prisão”.