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A enxurrada de lama oriunda do desastre ambiental em Mariana (MG), onde duas barragens da mineradora Samarco se romperam e provocaram um rastro de destruição, na sexta-feira (6), devem chegar ao Espírito Santo pelo leito do rio Doce entre 12h e 15h desta segunda-feira (9).
O plano de paralisar o abastecimento hídrico na região, por conta da possibilidade de contaminação, deve começar a ser colocado em prática nas próximas horas. Autoridades locais estimam que a falta d\’água pode durar até 72 horas.
As previsões são do SCO (Sistema de Comando de Operação), comitê de gerenciamento de crise montado por representantes de três municípios do noroeste capixaba –Baixo Guandu, Linhares e Colatina.
Técnicos acompanham o deslocamento da lama em tempo real e já realizam análises para verificar eventuais níveis de contaminação da água do rio Doce, principal fonte de captação para várias cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. Há uma preocupação em especial com a população ribeirinha, que vive ao longo dos dez quilômetros de extensão do rio, e depende da pesca.
A primeira cidade a ser atingida será Baixo Guandu (a 186 km de Vitória), na divisa com Minas Gerais, onde vivem mais de 30 mil pessoas. Na vizinha Colatina, que tem mais de 120 mil moradores, a lama deve chegar durante a madrugada de terça-feira (10), segundo o prefeito Leonardo Deptulski (PT).
Em entrevista à rádio \”CBN\”, o político afirmou que, na cidade, o fornecimento de água será interrompido quatro horas antes –por volta de 0h.
\”Nós nos preparamos para um período de até 72 horas [de falta d\’água]. (…) Só vamos liberar água para a população com toda a segurança, com laudos técnicos assinados que comprovem a qualidade necessária para o consumo.\”
Deptulski disse ainda que, com base em amostras já coletadas e analisadas, há indícios de que a água do rio Doce apresenta níveis elevados de alumínio, ferro e manganês. Até o momento, no entanto, a equipe técnica não detectou presença de elementos tóxicos.
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\”A gente ainda não sabe o grau exato de composição, mas não foi encontrada nenhuma substância tóxica até o momento. (…) Há parâmetros [de análise] que vão dizer se essa água tem condição ou não de ser tratada\”, disse.
O prefeito declarou que os municípios da região articularam um plano de ação para enfrentar problemas relacionados à interrupção do abastecimento. As medidas incluem a contratação de carros-pipa, com prioridade para hospitais, laboratórios, abrigos e asilos, além do redirecionamento de água potável de outras localidades para que sejam atendidos os pontos mais críticos.
\”Estamos recebendo hoje 30 carros-pipas somando com os nossos, temos mais alguns previstos para chegar, para ficarmos entre 40 e 50 carros para mantermos o mínimo de atendimento, a rede de solidariedade está grande, alguns prefeitos nos ligando, mas infelizmente o carro-pipa não substitui a captação.\”
Receio e estoque
Segundo amostras coletadas e analisadas nos últimos dias, a água com rejeito de minério teve resultados de oxigênio dissolvido e turbidez em desacordo com os limites da legislação, além de aparência desagradável. A turbidez na água foi provocada pela presença do rejeito de minério, que deixou a sua aparência opaca (marrom avermelhada), podendo reduzir a penetração da luz. Isso prejudica a vida aquática –por isso, há temor em relação à possibilidade de mortandade de peixes.
Em Colatina e em Baixo Guandu, por precaução, as aulas nas escolas públicas e particulares serão suspensas. Os moradores também não escondem o receio de acontecer uma contaminação. A gari Elisângela dos Reis Ferreira, 50, mora às margens do rio, no centro de Colatina. \”Como vamos ter certeza de que essa água não vai trazer sujeira e riscos para a nossa saúde?\”, questionou.
Com medo de que falte água para beber, o professor Wanderson Rodrigues Motta, 39, correu até uma distribuidora de bebidas em Colatina, onde comprou alguns fardos de água mineral para deixar estocado em casa. \”A situação já não era boa com a estiagem. Com a lama, o problema só se agrava.\”
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