Júlio Pontes
A música “Oyá” é sucesso em qualquer roda de samba do Brasil. A canção composta por Carica e Wilson Prateado e interpretada pelo Grupo Sensação é quase um pedido de socorro à divindade africana de mesmo nome, que pode trazer, pelo vento, tanto destruição quanto renovação. Diz a letra:
“Será que a força da fé que carrega nosso viver pode mover montanhas pra gente poder passar?”.
Recentemente, a canção, pelo que percebo, voltou a tocar com maior frequência. Apesar de não ter um dado que comprove tal suposição, como manda o bom Jornalismo, como frequentador assíduo de pagodes, posso garantir o que escrevo. Atribuo o sucesso a um vídeo do rapper Emicida na roda de samba do Quintal dos Prettos, que atingiu 15 milhões de visualizações em quatro anos.
Depois de “Oyá” voltar a fazer sucesso, Carica, um dos autores da obra, foi entrevistado pelo brasiliense Leandro Britto e revelou uma mudança no verso que está no título desta coluna. A primeira versão da música seria “Lá na Casa da Dinda o teto tá pra cair”. A Casa da Dinda foi a residência oficial de Fernando Collor de Melo quando ele ocupou a Presidência da República.
Naquele momento, Collor enfrentava o processo de impeachment no Congresso Nacional. Com a demora para gravar a música, o processo de Collor andou, o teto da Casa da Dinda caiu e ele foi cassado. Assim, o verso teve de mudar:
“Lá no céu de Brasília estrelas irão cair”.
TEM MAIS – O Sensação ficou famoso, principalmente, pelas músicas que falam de amor. De maneira geral, pagode na década de 1990 se notabilizava por essa temática. Apesar disso, o Grupo gravou em todos os seus álbuns músicas com críticas sociais.
Além de “Oyá”, outras músicas são exemplos de como misturar samba e política: “Crianças do Brasil”, “Canto Nacional”, “Trem Brasil” e “Zumbi”. Esta última, inclusive, conta com a participação do rapper Mano Brown, ex-Racionais MCs. Todas elas têm a dupla Carica e Prateado como compositores.