Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e ex-secretário de Esportes do governo Agnelo Queiroz (PT), o deputado federal Julio Cesar Ribeiro (Republicanos), de 46 anos, diz que, “pelo grande número de evangélicos que existe em Brasília”, Ibaneis Rocha (MDB) terá “um ganho muito grande” com um evangélico como vice em 2022. Mas acha que é cedo para discutir uma possível substituição do atual ocupante do cargo, Paco Britto (Avante). Integrante da Frente Parlamentar Evangélica, ele reconhece a força do grupo, e reforça a imagem da atual Legislatura como uma das mais conservadoras da história do Parlamento brasileiro. Nesta entrevista ao Brasília Capital, Julio Cesar concorda com o presidente de seu partido, Marcos Pereira em relação ao alinhamento ideológico com o governo Bolsonaro: “a gente converge uns 90%, mas não 100%, porque tem temas que realmente precisa de muito equilíbrio, senão a gente vai trazer muitos problemas para o nosso país”.
O senhor faz parte da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara dos Deputados. Como tem sido a articulação desse grupo nas votações e nos trabalhos do Congresso? – Realmente, a bancada evangélica é muito forte. Somos 109 deputados e 12 senadores. Essa Frente se reúne todas as terças-feiras para debater os temas relacionados à questão do conservadorismo.
Que tipo de tema? – Por exemplo, estamos em uma ampla discussão sobre a questão das drogas. Na quarta-feira (26), discutimos o projeto 399/2015, sobre o uso medicinal da maconha.
A Frente é contra? – Inicialmente o projeto tratava apenas da liberação do tratamento medicinal e nesse ponto nós somos favoráveis. Contudo, durante o processo a esquerda começou a colocar emendas e hoje o projeto acaba liberando o plantio da maconha no Brasil. Nós estamos deixando muito claro que somos contra esse plantio.
Como produzir o remédio sem plantar a maconha? – Hoje já acontece de trazer isso de fora. O STF já autorizou a importação e isso já está acontecendo. O que eles querem agora é fazer com que haja a plantação no país. Imagina! Nos quatro cantos do país tendo diversas plantações! Vão dizer que é para o uso medicinal, só que vai acabar abrindo um grande comércio e a gente sabe o que a droga causa em uma pessoa, dentro de um lar, de uma família. Veja o que ocorreu no Rio de Janeiro com MC Kevin, em meio a bebidas e drogas ilícitas. Estamos preparados para lutar apenas pela utilização medicinal, com a importação. Mas, com esse substitutivo o projeto não avança.
A atual legislatura talvez seja a mais conservadora da História. A pauta conservadora domina o Congresso? – Não necessariamente. Temos um bom número que é conservadora pelo princípio evangélico. Tem os conservadores bolsonaristas. Mas a questão conservadora não é o que reina não. O que reina é a pauta que o país está necessitando. Cada tema é discutido aqui com muita cautela. O Rodrigo Maia, presidente dos últimos dois anos, colocava todo tipo de assunto em discussão e todos eles foram debatidos de forma democrática. Agora, não tem como negar que a tendência dos deputados sempre é fazer com que as pautas conservadoras avancem. Não tenha dúvida.
A bancada bolsonarista tem posições mais radicais do que a Frente Evangélica. Como é essa convivência? – Eu costumo dizer que todo extremismo é perigoso. É muito perigoso quando você é totalmente esquerdista, e é perigoso quando você é totalmente de direita. Eu acho que a gente tem que ter o equilíbrio. No Republicanos a gente tem essa preocupação. Somos um partido de centro-direita. As nossas pautas convergem com as do presidente Bolsonaro, mas não na totalidade. Como diz nosso presidente Marcos Pereira, a gente converge uns 90%, mas não 100%, porque tem temas que realmente precisa de muito equilíbrio, senão a gente vai trazer muitos problemas para o nosso país.
A Igreja Universal, da qual o senhor é pastor, está enfrentando uma dificuldade diplomática com Angola, que deportou mais de 30 missionários brasileiros. A postura do governo Bolsonaro foi condizente com a expectativa dos evangélicos? – Inicialmente, a gente achava que o governo brasileiro poderia ter sido mais enfático, mais duro. Mas, após isso ter sido divulgado, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Carlos França, nos chamou para uma reunião, onde a embaixada se colocou à disposição. Até porque, onde já se viu um país deportar mais de 30 pastores que estão ali levando a palavra de Deus, missionários que estão fazendo a obra de Deus voluntariamente, serem expulsos. É um regime totalitário ferindo todas as regras internacionais. E o Ministro Carlos França, conversando com presidente Bolsonaro, instituiu uma comissão que irá a Angola nos próximos dias. A gente estará lá conversando com as autoridades para tentar resolver esse problema que é muito ruim entre os países, porque nós sempre tratamos muito bem o povo angolano.
O Bispo Edir Macedo foi recepcionar os missionários deportados no aeroporto de São Paulo e deixou clara a insatisfação com o governo. Chegou a insinuar um possível apoio a Lula em 2022. O senhor acha isto possível? – Não. Como eu disse, nosso partido converge na maioria das pautas do governo e não há nenhuma pretensão de rompimento. Agora realmente, a gente ficou preocupado porque não houve aquele empenho do governo. Mas, como eu disse, isso já foi superado. Nós estamos acreditando que, com a força do Itamaraty, vamos buscar uma solução para esse conflito.
Para o senhor não seria novidade uma aproximação com o PT. Afinal, o senhor foi secretário de Esportes do governador Agnelo Queiroz… – São momentos totalmente diferentes. É importante fazer menção de que à época em que nosso partido foi aliado do governo nós não tínhamos aquele grande número de problemas que foram devidamente demonstrados e as pautas da esquerda contra os princípios do conservadorismo, que começaram a ser muito mais latentes. Então, são momentos diferentes. Nós temos nos posicionado contra esse tipo de ideologia. Também não existe nenhuma possibilidade de que a gente vai tender para a esquerda. Eu acho que no momento nós estamos no caminho, junto com o governo Bolsonaro. Qualquer tipo de fala nesse momento é pura especulação.
Os evangélicos indicarão o vice na chapa do governador Ibaneis no próximo ano? – O governador Ibaneis é quem deve escolher o vice que ele acha que vai ajudá-lo na composição da chapa para sua reeleição. Sem dúvida, ele ter um evangélico ao seu lado, pelo grande número de evangélicos que existe em Brasília, certamente ele terá um ganho muito grande. Mas a gente sabe que isso só se fecha em abril do ano que vem. Agora, é normal as conversas e as especulações acontecerem. Mas, sem dúvida alguma, um evangélico na chapa de um governador ajuda muito.
Então a tendência do Republicanos é ficar na chapa do governador ou discutiria um apoio à senadora Leila? – A gente tem um presidente local, o Vanderlei Tavares, que é o responsável por toda articulação do partido. É claro que a aliança que nós temos hoje com o governo Ibaneis é muito forte, muito sólida. Mas nesse momento a gente não está pensando nessa composição, até porque ainda falta um ano e sete meses para acabar o mandato de todos. Acho que é o momento ainda da gente estar preocupado em vencer essa pandemia, vencer a questão da vacina. O foco principal tem que ser a população. A gente ficar trazendo esses temas ainda este ano é muito cedo. O Republicanos está bem alinhado com o governador Ibaneis, assim como com o presidente Bolsonaro. Então, acho que esse tema realmente só vai avançar no ano que vem.
O senhor fala em vacinar a população e se diz alinhado com o presidente que nega a importância do imunizante. Não há aí uma incoerência? – Torno a repetir: as pautas convergem com o governo em sua maioria, mas não em sua totalidade. Meu partido entende, e tem cobrado, que é importante que haja a imunização total da população. Estamos exigindo que isso aconteça, até para que a gente possa trazer um ambiente mais confortável para o nosso país. Aqui em Brasília temos conversado muito com o governador Ibaneis e todas as vacinas que chegam são prontamente colocadas à disposição. Assim, o governo está lutando realmente para que a gente possa imunizar a população.
E a CPI da Covid? – Virou uma questão política. Abriram a CPI para apurar. Então devemos esperar para ver qual será o resultado dessa Comissão. No meu ponto de vista, ali é uma CPI para tentar desgastar o governo. A gente vê ali uma situação que não há nada ainda palpável para se condenar o presidente. Como eles estão investigando, ao final a gente vai ter então um relatório e poderemos ter uma posição muito mais clara, se houve ou não culpa do governo em alguma situação.
Qual tem sido a importância do seu mandato para o Distrito Federal? – Além dessas questões políticas que ocorrem aqui no Congresso, nós também temos trabalhado muito por Brasília. Temos conseguido trazer emendas para ajudar a nossa cidade. No ano passado, consegui trazer recursos para nove creches e três escolas. Estamos trazendo a Casa da Mulher Brasileira para São Sebastião, Recanto das Emas, Pôr-do-sol e Sobradinho. Estamos conseguindo um tomógrafo para o Hospital de Base e recursos para a Saúde e outras áreas de suma importância.
Como ex-secretário de Esportes, o senhor está apoiando a realização dos Jogos Universitários, que ocorrerão em outubro em Brasília… – Na quinta-feira (27), lançamos, no Palácio do Buriti, com a presença do ministro da Cidadania, João Roma, que é do meu partido, os JUBs. É um evento que vai reaquecer a economia do DF. Serão 4,5 mil jovens aqui em Brasília, durante 14 dias, ocupando hotéis, restaurantes, transporte. Tudo com dinheiro advindo das loterias esportivas. Ou seja, Brasília está colocando pouco recurso em vista do que o governo federal está investindo. Nosso trabalho também pauta essas situações. Isso é muito importante. Vamos colocar também R$ 2 milhões no Hospital do Guará, além de emendas para os hospitais regionais de Taguatinga e de Samambaia. Eu estou muito feliz, porque aquilo que prometemos, que seríamos um elo entre o governo federal e o governo distrital, estamos conseguindo realizar, graças ao grande trabalho que desenvolvemos aqui na Câmara. No nosso sangue pulsa esporte e pulsa o fortalecimento da economia.