Mario Pontes
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RIO – Muitos anos atrás, a convite do escritor maranhense Josué Montello, fui a São Luís, e lá conheci Jomar Moraes. À frente do SIOGE (Imprensa Oficial do Estado), ele se esforçava teimosamente para recuperar a memória literária da antiga província, trazer de volta, às vezes em edições fac-similares, livros, jornais, arquivos, peças importantes para a história da antiga Província do Maranhão e, em alguns casos, a do país.
Tempos depois, veio uma reviravolta política e Jomar perdeu o cargo. A título de consolação ganhou o direito de frequentar um curso anual sobre aspectos da história brasileira, ministrado pela Escola Superior de Guerra. Jomar não tinha um amigo no Rio com quem pudesse encontrar-se, conversar de vez em quando. Então lembrou-se de mim. Ligou-me, e para encurtar a história, nos seguintes meses de sua presença na cidade, recebi-o todos os domingos no meu apartamento em Botafogo, para almoçar e conversar sobre o assunto que mais nos interessava: a vida dos livros.
Jomar não voltou ao cargo antigo. Mas, como membro da Academia Maranhense de Letras, lá está ele novamente envolvido com velhos jornais, extensos documentários, cuidadosas reedições de obras criadas por antigos autores locais. Como é o caso do célebre romance O Mulato, do maranhense Aluísio Azevedo, obra inaugural do naturalismo no Brasil, que desde seu aparecimento em São Luís, no ano de 1881, tem sido reeditado, aqui e ali, com muitos erros e mesmo adulterações, agora eliminados.
Nem toda teimosia deve ser admirada. Mas teimosos com o perfil de Jomar Moraes só merecem aplausos. Quantos títulos valiosos para a história e a literatura brasileira continuariam encarcerados no limbo do esquecimento, não fosse a sempre desperta obstinação de sujeitos como ele!