De todas as pessoas que conheci, nunca ninguém me impressionou mais do que Jerônimo Mendonça, pela sua alegria, seu bom humor e o otimismo, mesmo vivendo numa cama.
Jerônimo era jogador de futebol de Ituiutaba (MG) quando sonhou que era duas pessoas ao mesmo tempo: um estava deitado e o outro de pé. Então, apareceu um velho de barbas brancas, que depois ele descobriu tratar-se de Bezerra de Menezes. O velho lhe informou: o que está de pé é você hoje, e o que está deitado é você amanhã.
O tempo passou e, lentamente, a artrite reumatóide instalou-se, tornando-o tetraplégico. E depois outra doença apareceu em seus olhos, tornando-o cego.
Inicialmente, revoltou-se. Mas depois, antes de ficar cego, ganhou de presente o livro “Apenas uma sombra de mulher”, de Fernando D’O, e com essa leitura, a transformação.
Tornou-se palestrante, fundou um orfanato para 160 crianças em sua cidade e, numa maca, dentro de uma Kombi, foi levado por todo o Brasil fazendo palestras e arrecadando fundos para sua Instituição.
Sempre alegre e conselheiro, fazia chorar pessoas saudáveis que se aproximavam pensando em suicídio. Gostava de repetir: “Primeiro, Deus me pôs de muletas; depois me sentou numa cadeira de rodas; em seguida me deitou e depois me cegou de um olho e depois, do outro. Como Deus é bom”.
Nesta situação ficou por 32 anos quando desencarnou. Sempre bom palestrante, no início, era convidado para falar em festas, aniversários, enterros ou solenidades. Até que, certo dia, foi esquecido num cemitério. Mas teve a sorte de ser encontrado por um bêbado que falou: “Eram dois defuntos e este aqui não tem caixão”. “Não sou defunto, não, meu irmão, respondeu. Só fui esquecido aqui no Cemitério…”.
Numa palestra para presidiários da Papuda, em Brasília (DF), ensinou: “Bom dia meus irmãos. Vocês são presos e eu sou preso também. E enquanto o carcereiro não trouxer a chave nós vamos tocando pra frente. Eu era um jovem jogador de futebol”…
E continuou contando sua história, que está no livro “O gigante deitado”. Até que um presidiário levantou-se e pediu: Irmão Jerônimo, prometa que voltará pra falar pra nós”. “Prometo”, respondeu.
Isto é um pouco de Jerônimo Mendonça, um tetraplégico e cego que encantava a todos.