Tomei um susto ao ficar diante daquela distinta senhora, de cabelos grisalhos na tela de minha TV, na sala do meu apartamento na 113 Sul.Não havia a menor dúvida sobre a identidade, até porque o repórter americano que a entrevistava confirmou que se tratava mesmo de Jane Fonda, aos 81 anos, filha do também famoso ator Henry Fonda. Ela, a estrela fulgurante que marcara época na constelação de Hollywood.
Mas a verdade é que aquela imagem não tinha nada a ver com a moça que conheci naquele bar do Village, bairro boêmio nova-iorquino, que chamava a atenção pelo par de olhos enormes do tamanho de um oceano azul-marinho.Realidadeque deixa o sonho à parte, isso aconteceu de fato por volta do ano 1962, quando passei uma temporada em Manhattan, trabalhando como correspondente de um jornal do Rio de Janeiro.
Em todas aquelas ansiosas noites, eu chegava mais cedo no referido boteco, frequentado por uma elite de boêmios, a fim de reservar um estratégico lugar bem próximo da mesa cativa em que a minha bem-amada Jane compareceria, sem falta, acompanhada do seu primeiro marido, o cineasta francês Roger Vadin, aquele canalha sexual que ofuscou a moralidade de Miss Fonda, induzindo-a à pratica do ménage à trois.
Muito embora sem tomar conhecimento de minha presença de fã apaixonado que conhecia a sua biografia desde o primeiro capítulo de uma menina que nascera em berço de ouro e fora batizada com o nobre nome de Lady Jayne Seymour Fonda, que tinha tudo para desfrutar de benesses, o que não aconteceu desde a infância protagonizada por sua mãe, a socialite Frances Seymour Ford, que morria de ciúmes pela atração exercida por seu marido Henry, em relação a outras mulheres e que acabou cometendo suicídio quandoJane tinha apenas 12 anos.
Desde então a adolescência da jovem Lady se transformounuma sequência de consultas com psicólogos e psiquiatras famosos nos Estados Unidos, só conseguindo sobreviver graças ao talento artístico que Jane herdara do pai Henry, além dos chamativos olhos azuis.
A essa altura, Jane acabou se apaixonando pelo cineasta francês Roger Vadin, com quem protagonizou o seu primeiro filme em 1973, incluindo-o como seu primeiro marido, no rol de tantos outros que disputaram o seu amor, embora inconstante.
Quando a conheci no Village, Jane Fonda se tornara líder política de esquerda, após retorno de uma visita ao Vietnã do Norte, onde posou sentada nos colos de soldados vietnamitas, o que lhe valeu o apelido pela imprensa internacional de \”Hanói-Jane\”.
Como, à época, eu também era adepto da filosofia marxista, compareci a um comício programado por ela no Central Park. E até hoje sinto arder no meu lombo os golpes de espada da Polícia Montada de New York, que não brinca em serviço.Mas, o que continua doendo mesmo (e muito) é a saudade daquela Jane Fonda, a moça de enormes olhos azuis, que foi rebaixada de ídolo para ex-paixão!