A polêmica envolvendo o despejo de Izalci Lucas (PSDB-DF) de um dos mais prestigiados gabinetes do Senado Federal revela a decadência de um outrora mais forte partido político do Brasil, a falta de rumo da legenda e a guinada, cada vez mais à direita, do parlamentar candango.
Izalci, como líder de partido, ocupa um raro gabinete no Salão Azul, e tem direito a uma vintena de assessores muito bem pagos. O local fica entre a presidência da Casa e o plenário e é destinado a legendas com muitos parlamentares. Mas no PSDB, hoje, além de Izalci, só tem mais o senador Plínio Valério (AM).
Na Câmara, os tucanos possuem quatorze deputados. Para ganhar um pouco de espaço nas comissões tiveram que compor um bloco bastante heterodoxo. Estão unidos ao PDT, Avante, PP, Patriota e PSB.
Dezesseis parlamentares federais é muito pouco num Congresso de 594 cadeiras, ainda mais para um partido que dirigiu o Brasil durante oito anos e, em 2010, elegeu oito governadores, incluindo São Paulo e Minas Gerais. Em 2022, nenhum candidato tucano ao Senado foi vitorioso.
Mudanças programáticas – O quadro de desidratação política dos tucanos pode ser consequência de mudanças programáticas dos rumos que o PSDB adotou para chegar ao poder e lá se manter.
Fruto de uma costela da esquerda do MDB, o partido nasceu na Constituinte pelas mãos de lideranças como Mario Covas, Franco Montoro, Arthur da Távola, entre outros. No DF, nomes como Sigmaringa Seixas e Maria de Lourdes Abadia fizeram parte da legenda. A ideia era se contrapor ao Centrão na definição das regras constitucionais.
Para chegar ao poder, contudo, o PSDB se abraçou com o PFL, com raízes na antiga Arena, partido de sustentação dos militares na ditadura. O combativo sociólogo FHC, um dos autores da Teoria da Dependência, não se fez de rogado e se abraçou a nomes como Antônio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen, civis bem aquinhoados pelos militares.
Essa convivência parece ter contaminado os tucanos e o gene original, social democrata, e deu lugar a um liberalismo conservador, hoje personificado em nomes como o de Izalci Lucas e do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
A contaminação fez com que o PSDB se sentisse à vontade durante a gestão bolsonarista. No Congresso, Izalci foi vice-líder de Bolsonaro e fez de tudo para virar seu ministro da Educação.
Distrito Federal – O deslocamento de quem se apresentava de centro para a extrema direita é um posicionamento estratégico no campo das eleições para o GDF em 2026. Izalci certamente não terá apoio das legendas de esquerda e centro-esquerda.
Mesmo o Cidadania – partido com o qual o PSDB está federalizado -, cuja nova direção nacional pretende se aproximar do governo Lula, pode não vir a apoiá-lo. Precisa, então, ser reconhecido como o melhor candidato da direita.
Mas por ai o caminho está congestionado. Além da já pré-candidatura da vice-governadora Celina Leão (PP), os Republicanos pretendem lançar a senadora Damares Alves, símbolo-mor do bolsonarismo candango.
Para abri espaços, Izalci faz gestos aos bolsonaristas e a Ibaneis, de quem era desafeto até o ano passado. Tenta atraí-los. Recentemente, concedeu título de honra ao mérito a um capoeirista que estava entre os invasores do Congresso Nacional no 8 de janeiro.
Desespero – Na CPMI dos atos antidemocráticos, defende a tese de que o golpe foi armação do governo Lula, e numa ação de desespero, para não perder seu gabinete de líder e as benesses de que ainda dispõe, convidou para a legenda o senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES).
Com três senadores, as mordomias congressuais seriam mantidas para o PSDB. O parlamentar capixaba é investigado por possível participação em tentativa de golpe de Estado contra a gestão Lula.
Ele mesmo admitiu que, juntamente a Bolsonaro, discutiu uma armadilha para que o ministro do STF, Alexandre de Moraes, admitisse em gravações clandestinas ter agido de forma ilegal nas eleições passadas.
Porteira fechada – A resposta do ninho tucano foi imediata e a direção nacional fechou a porteira para Do Val. Não quer correr o risco de ver um senador peessedebista sendo preso pela Polícia Federal.
Mas nada disso preocupa Izalci. Sua meta é o Buriti. O convite a Do Val lhe rendeu frutos midiáticos entre os bolsonaristas. O PSDB, inclusive, é um mero detalhe.
Ele, que já foi do PL, não titubearia caso recebesse um convite do União Brasil, do Podermos ou do Republicanos para trocar de legenda, desde que lhe fosse garantida a vaga de candidato ao GDF. E, claro, tempo de TV e Fundo Eleitoral.
Eventualmente, fora do PSDB Izalci teria até mais chances. O problema é saber se essas legendas vão lhe abrir as portas.