Orlando Pontes
Janaína Nunes Araújo, de 44 anos, não podia trabalhar. Sem renda e sem conseguir emprego, e com problemas psicológicos, ela morava com duas amigas desde 2021, quando perdeu a mãe. Durante oito dias, tentou atendimento para obter o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Mas a burocracia da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) a impedia de concluir o cadastro. Desesperada, Janaína resolveu dormir na fila do Centro de Referência Social (Cras) do Paranoá, onde chegou às 16h de terça (16) para tentar obter uma senha na manhã do dia seguinte.
Mas não resistiu. Janaína começou a passar mal por volta das 20h. Para não perder o lugar na fila, continuou deitada no carro. Às 4h da madrugada de quarta-feira, testemunhas ligaram para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
Mas o socorro não chegou a tempo. O Samu alega que as pessoas que telefonaram não souberam informar o endereço do Cras. Fatalidade? Não. Janaína foi vítima do descaso do GDF, que tem mais de 270 mil em situação semelhante à dela.
“A morte de Janaína era uma catástrofe anunciada que poderia ocorrer a qualquer momento. Infelizmente, ela pode não ser a última vítima fatal deste descaso do GDF”, disse o diretor de Comunicação do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural (Sindsasc), Clayton Avelar.
Primeira-dama comandou a Sedes
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) foi comandada nos últimos 28 meses pela mulher do governador Ibaneis Rocha, Mayara Noronha Rocha. Ela pediu exoneração na segunda-feira (15) alegando que vai participar da campanha do marido à reeleição.
Sobre a morte de Janaína Nunes Araújo, a Sedes explicou, em nota, que ela se sentiu mal nas proximidades do Cras do Paranoá por volta das 20h de quarta-feira (17), segundo relatos de pessoas próximas, mas não procurou atendimento médico.
O GDF acrescenta que há um registro de chamado telefônico para o Samu às 4h18, mas, aos 41 segundos de atendimento a ligação foi interrompida pelo solicitante. “O médico regulador sequer teve oportunidade de ser informado do quadro da paciente”, informa a assessoria de imprensa.
O governo alega que Janaína deu entrada no Hospital Regional do Paranoá às 4h26 apresentando cianose de face (rosto roxo), corpo rígido e pupilas médio fixas. Na emergência, os profissionais utilizaram técnicas de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Às 5h, foi declarado o óbito. “Foi solicitada necropsia do corpo para identificar a causa da morte”, finaliza a nota do GDF.
Repercussão
“Quando a gente fala que este governo mata pessoas, muitas vezes dizem que estamos exagerando. Mas este governo mata sim”.
Leandro Grass (Candidato a governador pela federação PT-PV-PCdoB)
“É inaceitável que uma pessoa passe por tamanha humilhação a ponto de ter um infarto. É inaceitável um governo que não tem empatia com o sofrimento humano”.
Arlete Sampaio (PT) – Deputada distrital (PT)
“O governador vai permitir que estas filas continuem, que pessoas continuem morrendo? As filas no Cras são fruto da incompetência do governo federal e do GDF”.
Chico Vigilante – Deputado distrital (PT)