O risco de uma mulher morrer durante a gestação, no momento do parto ou até 42 dias após o término da gravidez, no Distrito Federal, é maior do que ela ser assassinada. Apesar de assustadora, essa é a realidade na capital do país. Os dados mais recentes, de 2013, apontam índice de 53,9 óbitos de mães para cada 100 mil bebês nascidos vivos, enquanto a taxa de homicídios é de 30,3 para cada grupo de 100 mil habitantes, segundo o último Mapa da Violência do Governo Federal. Uma das formas de proteger as grávidas e reduzir esse número é investir na qualificação do pré-natal, além de garantir o acesso a todas as futuras mães. Na próxima semana, órgãos do governo e da sociedade civil debaterão o tema para elaborar políticas que consigam preservar a vida da mulher antes, durante e após a gestação.
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Os dados foram divulgados ontem, Dia de Luta pela Redução da Mortalidade Materna no Brasil, pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), com base nos últimos números disponíveis no Sistema de Informações do Ministério da Saúde, de 2009 a 2013. O DF registrou 106 mortes maternas no período, passando de 19 em 2012 para 24 em 2013. “Está mais perigoso ser mulher e ter um filho do que ser morta na rua, mesmo diante da violência que temos. É chocante, mas é assim que temos a dimensão desse problema”, comentou o diretor de Estudos e Políticas Sociais da Codeplan, Flávio Gonçalves. O índice de mortalidade materna no DF está abaixo da média nacional — de 58,1 — mas ainda é alto, com base no considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 20 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. No Brasil, a unidade da Federação que mais se aproxima desse número é Santa Catarina, com 28,1. O DF aparece em 10º (veja Ranking nacional).
De acordo com o estudo, quando a mãe morre, a criança é privada da amamentação e do carinho materno. As perdas podem influenciar, inclusive, na mortalidade infantil e na incidência da desnutrição. A faixa etária com maior número de mortes é a de 20 a 39 anos, com 35% e 54,2%, respectivamente, entre 2009 e 2013. No entanto, foi registrada maior vulnerabilidade no grupo acima de 40 anos. Nesse segmento, a mortalidade chegou a 203,1 óbitos por 100 mil nascidos vivos no ano de 2013.
Segundo Ana Julieta Teodoro, coordenadora de Políticas para as Mulheres, da Secretaria de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal, é preciso salientar, também, a fecundidade acima dos 40 anos. “Esta faixa está morrendo mais, mas é preciso lembrar que dados apontam para a maternidade mais tardia. Nos interessa monitorar essa questão”, adiantou. Além das mulheres acima dos 40 anos, as negras e as solteiras também foram destacadas no estudo por terem maior taxa de mortalidade.
No início do estudo, em 2009, os óbitos de não negras eram superiores: estavam em 79,4 por 100 mil nascidos vivos. Entre as negras, o coeficiente era de 61,5. Mas houve uma inversão em 2013. As mulheres negras passaram a compor 72,9 óbitos e as não negras, 57,9. Já as solteiras representaram 80% das mortes maternas em 2010. “Não podemos dizer que elas são mulheres pertencentes a um grupo de risco, porque, se a assistência e o atendimento a esta mulher for o ideal, ela poderá ter uma gestação com êxito. Precisamos trabalhar para que eventos evitáveis não ocorram”, destacou a chefe de gabinete da Secretaria de Saúde do DF, Mônica Iassanã.
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