Há duas semanas, na Grécia, a Humanidade iniciou um longo processo plebiscitário para escolher qual ‘conceito de progresso’ e ‘estilo de vida’ desejamos para o futuro. Com a vitória do “não”, o povo grego optou por continuar as negociações financeiras sem submeter-se à austeridade fiscal imposta pelo sistema bancário internacional, para reduzir a renda e pagar a dívida contraída ao longo de décadas. O governo grego usou o plebiscito para adquirir apoio popular e força para pressionar os bancos em uma negociação mais favorável, aceitando pagar parte da dívida, não sua integralidade.
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E foi este o caminho escolhido por mais de 61% da população. Assim, a Grécia aceitou uma ‘austeridade negociada’, em vez de submissa. Do contrário, o país se submeteria à pressão dos bancos para permanecer no bloco do euro. Outro caminho seria realizar uma “austeridade soberana” por meio de inflação em sua moeda nacional, provavelmente o Dracma. Pelo pacote do FMI e dos bancos europeus, a Grécia diminuirá a quantidade de dinheiro estável que seus cidadãos levarão para fazer as compras no mercado. Com o Dracma, o grego reduziria a quantidade de bens que levaria para casa, adquiridos com a moeda desvalorizada.
Os eleitores usaram o plebiscito como forma de pressionar os bancos, mas continuam com a ilusão de voltarem ao passado do esbanjamento, recebendo mais recursos da Europa. Mas a realidade vai forçar a continuação do longo plebiscito global sobre o \”conceito de progresso”. E qualquer alternativa a ser tomada passará pelo fim do esbanjamento de consumo, que caracterizou a Europa dos últimos anos, e do qual a Grécia é um caso mais notório, por seus problemas financeiros atuais. Esgotou-se a chance de financiar o progresso consumista, por obra da dívida financeira dos empréstimos, da dívida social e ética de concentração da renda e da dívida ecológica.
Na Grécia, há 2.500 anos, teve início a base científica e filosófica que permitiu a marcha da Humanidade em direção ao atual conceito de progresso, com base no endividamento sem limites para promover um crescimento econômico capaz de atender à voracidade da demanda por bens de consumo supérfluos. Agora, mesmo sem a consciência do fato, inicia-se ali o debate político global sobre um novo tipo de progresso, sem as ilusões de um consumo supérfluo ilimitado para todos por meio do endividamento descontrolado das pessoas e dos governos.
Não há como voltar ao passado de esbanjamento. O paraíso não está no “não”, nem no “sim” das negociações financeiras, mas na redefinição do paraíso. O verdadeiro plebiscito não é sobre como caminhar em direção ao progresso, mas como definir progresso. Não é entre pagar mais ou pagar menos, mas como progredir no presente sem dívida com o futuro.
Mesmo limitado aos aspectos financeiros, com o plebiscito as ideias de reorientação do progresso (invenção grega) saíram dos debates teóricos das academias (invenção grega) e chegaram à praça-política (outra invenção grega), na busca de uma nova utopia (mais uma invenção grega).
(*) Professor Emérito da UnB e senador pelo PDT-DF.
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