Médicos aderem às “selfies” e expõem pacientes durante expediente
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Gabriel Pontes
A cultura da exposição e do compartilhamento, associada à corrida por curtidas, tem revelado os bastidores de ambientes quase secretos. Um exemplo são os hospitais e clínicas. Até famosos, como Neymar, que foi flagrado quando chegou ao hospital logo depois de se machucar durante a Copa, não escapam das lentes.
Nas últimas semanas, dois casos vieram a público no DF. Primeiro, o de um médico que tirava “selfies” no Hospital Regional de Planaltina (HRPa) enquanto a fila só aumentava. Depois, o de uma oftamologista do Hospital das Forças Armadas (HFA), que fotografava e divulgava imagens dos pacientes durante procedimentos cirúrgicos naquela unidade de saúde.
Em ambos os casos, os médicos, aparentemente, fizeram algo inocente. Ou por não conhecerem as regras vigentes no Conselho Federal de Medicina (CFM) ou por não terem noção da proporção que isto tomaria. A revolta dos pacientes pode não ser com o médico, mas com o sistema de saúde em geral, que não funciona. Ver um doutor tirando foto enquanto pessoas morrem nos corredores é só o estopim da rebeldia.
Self
Uma paciente que levou a mãe doente para o HRPa disse que, cansada de esperar, foi procurar o médico de plantão e viu, por uma vidraça, o profissional sentado em uma sala tirando autorretratos. \”Eu fui ao hospital com minha mãe, que estava com pressão arterial muito alta. Quando nos aproximamos, ele saiu do consultório e foi para a sala da recepção. Como ela passava muito mal, eu fui atrás dele e vi que ele estava tirando fotos tranquilamente enquanto nós aguardávamos na fila\”, disse a jovem, que não quis se identificar.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal abriu sindicância para apurar o caso de Planaltina. Já no HFA, a última foto publicada, e a mais polêmica, foi de um procedimento cirúrgico, em abril deste ano. Ela mostra um paciente com o olho suturado, que na rede social foi batizada de “Costurado”. A imagem foi postada em maio de 2013. A foto, de acordo com a legenda, era para comemorar a primeira cirurgia feita pela médica sem a ajuda de outro profissional.
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A direção do hospital disse reprovar a exposição de pacientes ou procedimentos médicos em mídias sociais. Atualmente, a instituição tem 353 médicos e 91 residentes. Desses, dez são oftalmologistas e seis se especializam na área. A entidade afirmou que vai divulgar, por meio de um memorando interno, que eles evitem situações do tipo.
CFM – O vice-presidente e coordenador do Departamento de Fiscalização do Conselho Federal de Medicina, Emmanuel Fortes, afirma que os médicos que fazem este tipo de divulgação estão ferindo a legislação da profissão. “Foto de paciente só pode aparecer em eventos científicos, sem a identificação da pessoa ou do caso, e com a autorização do paciente. Caso contrário, o sigilo médico está ferido”, alerta Fortes.
As punições para o não comprimento das normas de divulgação do trabalho do médico podem acarretar advertências e até a perda do registro profissional. Segundo Fortes, alguns médicos só não perderam o registro, ainda, devido às propagandas indevidas porque recorreram à Justiça comum. Mesmo assim, continuam correndo risco de não poderem mais exercer a profissão.