O interrogatório da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) no julgamento do impeachment deve terminar hoje (29) por volta das 23h. A previsão é do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do julgamento, ministro Ricardo Lewandowski, com base no ritmo da sessão, levando em conta que cada senador tem direito a cinco minutos para os questionamentos, enquanto Dilma tem usado mais de cinco minutos para responder.
A previsão é de que a decisão sobre a saída definitiva da presidente afastada ocorra na próxima quarta-feira (31). Na ocasião, serão necessários os votos de pelo menos 54 senadores contrários para Dilma, além de perder de vez a cadeira no Palácio do Planalto, ficar inelegível para qualquer cargo público por oito anos. Se for rejeitado o impeachment, o processo é arquivado e ela reassume o cargo.
Em suas respostas, Dilma tem se esforçado para desmontar a tese da acusação de que ela tenha praticado uma forma de “estelionato eleitoral” em 2014, quando teria ocultado a verdadeira situação das contas públicas durante a campanha para ganhar votos.
Crise mundial – A petista apresentou gráficos e dados que demonstram que a crise econômica mundial se deteriorou a partir de outubro de 2014, piorando ainda mais em janeiro de 2015. Segundo ela, o preço do petróleo caiu e o dólar subiu em relação a todas as moedas do mundo, o que provocou impacto também sobre o real.
Ainda de acordo com Dilma, não era possível ao governo prever esse agravamento. “Eu não menti no processo eleitoral”, garantiu ao senador Magno Malta (PR-ES). “Ninguém sabia que teríamos uma queda de mais de US$40 [no barril de petróleo] nesse processo iniciado em outubro, durante a eleição, mas que fica intenso no início de 2015. Nós não controlamos, nem nós, nem ninguém controla a política do Banco Central americano, nem do governo americano”, completou.
“Golpe parlamentar” – Dilma também voltou a responsabilizar o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelo processo que está sofrendo. Ao ouvir do líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB) que o processo nasceu nas ruas e não na Câmara a presidente afastada retrucou.
“Estou dizendo que é um golpe parlamentar. Não concordo que o processo veio das ruas de forma espontânea. Tratava-se de uma chantagem explícita do senhor Eduardo Cunha”, afirmou.
Durante todo o depoimento, ela exemplificou situações em que seu governo teria sido sabotado na Câmara para propiciar o processo de impeachment: “A busca de reequilíbrio fiscal desde 2015 encontrou forte resistência na Câmara dos Deputados, à época presidida pelo deputado Eduardo Cunha. Os projetos enviados pelo governo foram rejeitados parcial ou integralmente, pautas-bombas foram apresentadas e algumas aprovadas. As comissões permanentes da Câmara, em 2016, só funcionaram a partir do dia 5 de maio, ou seja, uma semana antes da aceitação do processo de impeachment pela comissão do Senado”, acrescentou.
Script – Apesar do esforço de Dilma para mostrar que foi vítima de um complô contra seu governo, o líder tucano a acusou de fugir das respostas objetivas sobre os crimes de responsabilidade que estão em pauta. Para Cunha Lima, a presidenta compareceu ao Senado com um script pronto para todas as perguntas.
“O que estamos vendo aqui hoje é um espetáculo político e não uma defesa. Com a máxima vênia, vossa excelência não responde às perguntas. Tem um script pronto. Tanto faz se a pergunta é sobre pedaladas fiscais ou sobre decretos, a resposta é a mesma. E creia que justificativas e desculpas em torno de crises internacionais – que foram chamadas no passado de marolinhas – não funcionam como defesa”, concluiu o líder.