Trago questões, intuições, questionamentos. Talvez muito mais interessante do que as respostas sejam as perguntas. Nós rotos, as perguntas rotas, nos guiam, nos conduzem. Às vezes não encontramos respostas, mas reformulamos as perguntas.
Perguntas são aparentemente angustiantes, mas se você olhar atentamente vai perceber que no fundo elas nos amparam. Não venho responder, venho perguntar a mim e a você. Como um carro em alta velocidade prestes a colidir.
Responda sem muito elaborar: o que você trai quando trai? Traímos muito, o tempo todo. Os desavisados acreditam que traição é também ato de enganar o outro. Na contramão desta certeza, acredito que trair é mais sobre mentir que sobre enganar.
Explico: enganar é ludibriar. Mentir é um perigoso alucinógeno. Quem mente acaba se perdendo, não tem balizadores emocionais, se perde.
De mentira em mentira a realidade se perde e um universo paralelo passa a ser criado. Mas esse universo não existe de fato.
O efeito colateral da mentira é a constante presença da falta, do vazio.
Dormi muito bem, me alimentei bem, trabalhei bem. Como você está? Estou bem, e você? Mentiras brancas. Mentiras rosas, pretas ou verdes, não interessa a cor da pintura – o quadro é falso. A tinta é falsa. A imagem é falsa.
Trair é, antes de tudo, covardia e soberba. Quando mentimos negamos a nós mesmos o enfrentamento do real que às vezes pode ser menos feio do que imaginamos. Nos tornamos encarcerados em nosso próprio cárcere.
Mentir é se aprisionar em um mundo aparentemente mais seguro. Um preso está seguro. Não precisa ver o sol, não precisa sentir, e mais que tudo, não precisa se revelar.
Quando mentimos negamos ao outro a possibilidade de se reconhecer e de nos apoiar. Negar a verdade é ato de arrogância. Não se mente sobre algo. Uma mentira é sempre sobre si.
Provoco você. O que você teme tanto, de fronte ao espelho, para se negar? Quais as razões das pequenas mentiras, ou mentiras sociais? Quais são as omissões por trás de uma traição? Entre a traição e o enfrentamento, a escolha.
Caminhos árduos, longas conversas ou atalhos. A maioria prefere colorir a vida com as cores do absurdo. Uma mentira colorida ou uma verdade em branco e preto?
Viver na verdade é de uma leveza que algumas almas simplesmente não suportam. Pasme, nem todo mundo suporta a felicidade, a alegria! A beleza da realidade pode ser intolerável.
A falta da verdade alimenta o desejo de mentir. Então, talvez a nossa pergunta seja outra. O que te falta quando você se falta?
(*) Escritora