Anna Ribeiro (*)
Não conheço nada mais deselegante que falatório, intriga, boato. Há alguns dias, uma fofoqueira de plantão me disse que alguém disse que eu sou insuportável! Alguma vez já falaram isso sobre você? O melhor mesmo é saber que falaram, assim mesmo, com sujeito oculto. Deveria existir o sujeito covarde na Língua Portuguesa. Fica a dica para a próxima revisão gramatical.
Num primeiro momento, o estranhamento. Até confesso que tive de concordar e ficar com aquele sorriso interno de felicidade. Sabe aquela alegria subversiva e secreta? Pois bem, essa! Insuportável: aquela que não é possível suportar. Ou seja, aquela que é grande demais para os seus ombros pequenos e braços frágeis.
Psicanálise
Em psicanálise há um consenso: aquilo que te incomoda demais revela algo com o qual você tem uma grande dificuldade de lidar. Alguém espelha algo que há em você ou algo que tenha recalcado em si e que é intolerável admitir.
Você que me conhece, sabe que prefiro quente ou frio, morno, só banho para bebês. Gente insossa passa em branco. Vamos criar o partido dos insuportáveis, dos inadmissíveis, dos incomodativos! Vilões ou heróis, de resto coadjuvantes.
Lembrando que ninguém é nada. Nós apenas estamos. Nós transitamos pela vida. Oscilamos. Mudamos de partido, de roupa, de corte de cabelo, de amigos. Mas precisamos ter um fio condutor interno para balizar nossas atitudes, independentemente do polo no qual estejamos.
Sustentáculo
É este sustentáculo interno que precisamos desenvolver durante a vida. Valores internos que sejam âncoras da alma. Assim, o corpo pode voar livre e solto. Pés ancorados, mente criativa, corpo livre, sentimentos em digressão.
Tenhamos a coragem e a ousadia necessárias para aparar os nossos excessos, e também para expandir nossas miudezas.
Sejamos todos insuportáveis!