Uma indústria pequena e ausência de fôlego para crescer são as principais características do setor no Distrito Federal, segundo análise da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O estudo O perfil da indústria nos estados, divulgado ontem, durante o Encontro Nacional da Indústria, em Brasília, mostrou que a atividade recuou no DF nos últimos 10 anos, contrariando a tendência de crescimento de outras unidades da Federação do Centro-Oeste. Com isso, o DF está em último lugar no ranking nacional de participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) local. Apenas 5,6% da economia estão ligados às fábricas, o que corresponde a R$ 9,2 bilhões.
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Apesar de a retração fabril no DF de 0,2% ser inferior à nacional, de 3,5%, a queda preocupa o setor porque a participação industrial é a menor do Brasil. Portanto, uma queda, mesmo que pequena, provoca maior impacto na economia. Além disso, a diminuição da atividade coloca o DF na contramão da tendência nacional, que é a descentralização. Enquanto nas outras unidades das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste a participação na indústria nacional cresceu, o DF não conseguiu acompanhar essa onda que tem chegado à região central do país. Goiás, por exemplo, ficou em quinto lugar entre as unidades que mais aumentaram a participação no PIB industrial brasileiro.
Para especialistas e representantes do segmento fabril, a pouca expressividade da indústria brasiliense se deve a uma série de fatores que impedem a atração de investimentos. “Falta uma política pública mais eficaz para o setor. Temos lotes caros; muita burocracia, com os alvarás, por exemplo; problema de infraestrutura, como falta de energia e de logística; e mão de obra cara pelo elevado custo de vida e não pela qualificação. Um investidor quer facilidade, e não brigar contra as dificuldades”, acredita Jamal Jorge Bittar, presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal. “O que torna o DF favorável para um investidor? O porto seco? Em Goiás, tem. A localização? Isso vale para outras unidades da região central. Para atrair investimentos é preciso trazer algo diferente, como criar polos industriais consolidados e planejados”, analisa Marcos Melo, professor do Ibmec e sócio-gerente da Valorum gestão empresarial.
Na análise de Júlio Miragaya, economista e presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), falta uma proatividade do DF para atrair investimentos. “Não tem uma política eficiente de atração. Nunca teve essa preocupação. As áreas de desenvolvimento econômico não funcionaram. O melhor é o Polo JK, que existe há 15 anos, cheio de problemas, com poucos avanços. Existe uma quantidade imensa de municípios interessados em atrair indústrias. Para quê ter dor de cabeça no DF?”, questiona.
Segmentos
Os principais ramos da indústria brasiliense são de bens de consumo imediato. A de alimentos, por exemplo, corresponde a 27,8% do total, e a de bebidas, 20,7%. Mas nem mesmo essas fábricas próximas a um importante mercado consumidor, como Brasília, conseguiram crescer e deslanchar. “O que a gente observa é que as unidades vizinhas se apropriam desse mercado, como Goiás, por exemplo. Veja a punjança do polo de Anápolis”, explica Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI.
“O consumidor não olha se o produto é made in Brasília. Ele se preocupa com o preço e a qualidade da mercadoria. E essa competitividade é difícil de conseguir em um ambiente com tantos problemas como o do DF”, afirma Bittar, da Fibra. Além de bebida e alimento, os produtos minerais não metálicos têm peso na composição da indústria, com 25,2% de representação. A fabricação de produtos farmoquímicos foi a atividade que mais ganhou participação na indústria local, passou de 0,1%, em 2007, para 4% em 2012. “Conseguimos atrair as farmacêuticas, mas elas têm que trabalhar meses no ano com gerador por falta de energia elétrica”, comenta Bittar.