Minha alma está exposta, derramada como um cálice de vinho na toalha branca sobre a mesa. Vermelho, o vinho; vermelha, eu. Derramada, exposta, espalhada, vista. Não há recipiente que me contenha. Não há rascunho que me defina.
No desenho da toalha, meus rios e rotas. Mas, para onde? Navego. Destino ainda incerto. O azul infinito, o mar, o vermelho, a chama, o fogo. Estou me colorindo com as cores do nosso segredo. Por fora, em preto e branco; por dentro, vermelha.
Algumas coisas na vida são cifradas. É preciso uma senha, um código de acesso ou coisa que o valha. Para além das coisas, também nós somos todos codificados. Alguns mais, outros menos, mas todos carregamos algum grau de segurança.
Eu sempre fui muito cuidadosa. Senhas duplas com números, letras e caracteres especiais. Sorrisos denotam gritos, deleites ocultam desolação. Arrebatamento. Entre o desamparo e o abandono, o nada, o infinito, o sem fim.
O instante entre o choro e a lágrima é o que me interessa, o que me comove. Entre a dor e o grito, a cisão e o encontro com aquilo que verdadeiramente existe. Entre o impulso do salto, o trágico da queda, o instante.
É esse momento que eu quero. Entre o rasgo e o sangue. Eu sou toda abandono nessas lacunas tão cheias de sons e cores. Colorida, me visto da orquestra que é você.