Normalizar as ameaças contra a democracia feitas por Jair Bolsonaro é um dos grandes temores dos atuais líderes das instituições brasileiras – apesar de o povo já estar se acostumando com o discurso do presidente. Por isso, partidos de centro passam a discutir a partir desta quarta-feira (8) o processo de impeachment do presidente.
Antes aventado apenas por legendas de esquerda, o impeachment agora chega às mesas de negociação do MDB, do PSDB e do PSD. Além disso, o MDB cobra Eduardo Gomes e Fernando Bezerra a entregarem os cargos de líderes no Congresso e Senado. DEM e PSL divulgaram uma nota conjunta de repúdio a Bolsonaro.
Em reação aos atos de ontem (7), Rodrigo Pacheco cancelou as sessões do Senado nesta semana. Ele também vai devolver a Medida Provisória editada por Jair Bolsonaro que limita a remoção de posts em redes sociais.
Fator Mourão
O avanço do impeachment depende diretamente da confiança do Congresso no vice-presidente, Hamilton Mourão. Quem esteve com o vice na terça (7) diz que a paciência dele se esgotou e que ele estaria disposto a ir para o tudo ou nada contra Bolsonaro, mas sofre forte pressão do presidente.
Outro integrante da linha sucessória é Arthur Lira, presidente da Câmara. Ele também deixou a letargia rumo a uma eventual substituição de Bolsonaro: a partir de agora, o impeachment estará respaldado por parte da centro-direita, mas o presidente da Câmara mantém um olho no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
STF
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se reuniram no fim do dia 7 de setembro. Todos concordaram que Bolsonaro extrapolou os limites previstos na Constituição Federal. O presidente da Corte, Luiz Fux, fará pronunciamento em nome de seus colegas na sessão desta quarta-feira (8).
Juristas apontaram o cometimento de crimes pelo presidente em seus discursos. Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) reagiram à possibilidade de não cumprimento de decisão judicial por parte do presidente.
Economia
Representantes do empresariado acompanharam o discurso de Bolsonaro com apreensão. A avaliação geral é que, passado o evento, o presidente deveria focar a retomada e perseguir a agenda econômica deixando a política de lado.
Neste momento, a disparada de preços colocou o Brasil em terceiro lugar no ranking de inflação da América Latina, atrás somente da Argentina e do Haiti, países que enfrentam, respectivamente, uma dura e persistente crise econômica e uma ebulição política e social, marcada por desastres naturais.
TSE
No TSE, o processo contra a chapa Bolsonaro-Mourão está em estágio avançado. O entendimento prévio é de que, uma vez configurado algum crime, o presidente poderá ter sua candidatura negada pela Justiça Eleitoral no ano que vem.
Diferentemente de investigações criminais contra Bolsonaro em curso no Supremo, o inquérito administrativo no TSE é considerado uma alternativa mais viável por não depender exclusivamente de denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), comandada por Augusto Aras.
Neste caso, além do Ministério Público Federal (MPF), partidos políticos possuem legitimidade para oferecer representação contra a candidatura do presidente; e será o próprio TSE quem julgará esses pedidos. O único requisito é que apresentem provas de que Bolsonaro cometeu crimes eleitorais.
Manifestações
A PM do DF registrou um total de 400 mil pessoas na Esplanada no dia 7. No pico, as manifestações tiveram 105 mil pessoas. Em 83 cidades brasileiras foram registrados atos pró-Bolsonaro. Às 20h30 de ontem foram registrados panelaços em várias capitais, incluindo BH, Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Florianópolis.
Após mobilizar manifestações em 179 cidades no feriado de 7 de setembro e atacar mais uma vez o sistema eleitoral brasileiro e as medidas restritivas adotadas por governadores no combate ao coronavírus, Bolsonaro mirou o ministro Alexandre de Moraes em falas para milhares de pessoas em Brasília, pela manhã, e São Paulo, à tarde.