As ruas deram a resposta que os políticos brasileiros tanto queriam sobre o impeachment da presidente da República. E ela foi muito clara: este é um caso político, e não popular. As manifestações pró-impeachment, no domingo (13), e a frente de defesa de Dilma Rousseff, na quarta-feira (16), levaram às ruas um público com viés partidário, e trazendo os mesmos argumentos parciais que se viu nas eleições de 2014.
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O protesto em prol do impeachment foi marcado para o dia 13 de dezembro e coincidiu com o aniversário do AI-5, baixado em 1968 e que deu início ao momento mais duro da ditadura militar (1964 a 1984). Apesar de os organizadores afirmarem que não havia relação entre os protestos e a ditadura, pequenos grupos ainda insistiam em pedir a volta dos militares. “Nossa manifestação não tem nada a ver com o AI-5”, afirmou categoricamente Beatriz Kicis, integrante do movimento Revoltados Online e Resgata Brasil.
Os organizadores atribuíram a baixa adesão aos protestos contra a presidente à falta de tempo para mobilização da parcela insatisfeita da sociedade. O quórum foi o menor desde a primeira manifestação, em março. Apenas seis mil pessoas atenderam ao chamado de ir à Esplanada dos Ministérios. Em agosto, foram 30 mil. Na Avenida Paulista, em São Paulo, onde 350 mil pessoas foram às ruas no dia 16 de agosto, apenas 25 compareceram no 13 de dezembro. A organização já marcou um novo protesto para o dia 13 de março.
Na quarta-feira (16), puxados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), pela União Nacional dos Estudantes (UNE), pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) e pelo PT e PC do B, manifestantes saíram em defesa do mandato de Dilma Rousseff e contra Eduardo Cunha em 26 capitais brasileiras. Em São Paulo, onde ocorreu o maior ato, 55 mil pessoas foram às ruas, segundo o Instituto Datafolha, e, segundo a CUT, 100 mil manifestantes estavam presentes. Assim como no caso do protesto de domingo, a pauta se confundia com outros assuntos, além do impedimento de Dilma. Por exemplo, protesto contra o ajuste fiscal.
“Entendemos que ser contra o impeachment não significa necessariamente defender as políticas adotadas pelo governo”, justificaram os organizadores. “Não aceitamos pagar a conta da crise”, afirmaram. Em Brasília, a manifestação começou às 19h30, na Rodoviária, e foi até o Congresso Nacional. De acordo com a Polícia Militar, 3 mil pessoas participaram do ato. Já os organizadores afirmaram que 15 mil manifestantes estavam na Esplanada.
O especialista em Ciências Políticas Gabriel Petrus analisa que, sem as ruas, dificilmente o processo de impeachment ganhará força ao ponto de retirar a presidente do cargo. “O povo é o termômetro. É muito grave retirar um presidente eleito sem o clamor popular”, afirma o consultor.
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