Uma tradição de quase 50 anos na pequena cidade de Olhos d’Água, a 90 quilômetros de Brasília, está ameaçada. O padre da igreja do distrito de cerca de 3 mil habitantes, a 15 Km de Alexânia, no Entorno de Brasília, Cleyton Garcia, anunciou, durante a missa do último fim de semana, que quer proibir a realização da Feira do Troca, na Praça Santo Antônio, em frente à Paróquia.
Criada em 1974 pela falecida professora Laís Aderne, da Universidade de Brasília (UnB), a Feira do Troca chegou, na primeira semana deste mês, à sua 96ª edição. “O objetivo sempre foi gerar renda e valorizar a comunidade local por meio da economia criativa”, lembra a professora Nilva Belo, uma das lideranças da cidade e defensora da tradição do Troca.
O presidente da Associação dos Artesãos de Olhos d’Água, Djalma Valois Filho, postou no espaço Conhecimento Livre, no Youtube, o vídeo do sermão do padre Cleyton intercalado com comentários apontando os equívocos do anúncio feito pelo pároco. “A Feira movimenta o comércio e é uma oportunidade de os artesãos ganharem um dinheiro extra a cada seis meses”, afirma Djalma. Ele estima que o evento deste mês atraiu de 8 mil a 10 mil turistas durante três dias.
Embora não queiram criar polêmica com a Igreja, os moradores, comerciantes e artesãos estão organizando várias manifestações – presenciais e virtuais – em defesa da Feira do Troca. Na quinta-feira (15), haverá uma concentração à noite, na Praça Santo Antônio. A ideia é ocupar espaço que o padre quer reservar para uso exclusivo dos católicos. “A praça é de todos”, defende Djalma.
“Esperamos sensibilizar o Poder Público (Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores de Alexânia) para defender os interesses da comunidade”, diz Nilva Belo. A reportagem do Brasília Capital tentou falar com o prefeito Allysson Silva Lima, mas ele não retornou à ligação até a publicação desta matéria (o espaço continua aberto para quando ele quiser se manifestar). O bispo auxiliar de Anápolis, à qual as paróquias de Alexânia e de Olhos d’Água estão subordinadas, Dom Dilmo Franco de Campos, respondeu, por meio de assessores, que a Diocese “no momento não vai se manifestar”.