O maior hospital terciário da rede pública do DF, o Base, pode perder metade do seu corpo clínico, responsável, em sua maioria, pelo atendimento de casos de média e alta complexidade. Isso porque o Iges-DF, anunciado no passado como uma “aposta e esperança” para a saúde pública, passa por tempos difíceis, com acúmulo de dívidas e suspensão do fornecimento de insumos e serviços.
Para piorar a situação, com a justificativa de “corte de gastos”, há a promessa de devolver os servidores de lá para a Secretaria de Saúde. Caso a ideia, de fato, se concretize, mais uma vez, tanto a população quanto os servidores da Saúde serão penalizados.
Não se recorre a esse tipo de atalho para se chegar a uma solução. Abrir mão de médicos especialistas, que só tem lá, distribuindo-os ao acaso, é um erro. O Hospital de Base é (ou já foi um dia) uma referência para casos graves. O corpo clínico da unidade está lá justamente por isso. São profissionais mais experientes e mais qualificados, que se dedicam a recuperar casos complexos.
As dívidas do Iges-DF não são fruto da remuneração paga aos servidores. O déficit financeiro do instituto vem do mau uso da verba destinada a ele. Além dos gastos do cartão corporativo com viagens, confraternizações e petiscos, não é de hoje que há a suspeita de que o instituto tenha se tornado um cabide de empregos.
No ano passado, por exemplo, o Ministério Público do Trabalho começou a investigar nomeações em cargos de chefia e gerência do Iges-DF. O órgão solicitou ao instituto que detalhasse a formação acadêmica, a qualificação e a experiência profissional dos escolhidos para funções de chefia, gerência ou supervisão.
E por falar nisso, é importante ficarmos de olho, também, na atenção primária que, com a covid-19, parece ter sido deixada de lado. Segundo denúncias da população, além de não termos vacinas suficientes para combater o novo coronavírus, outras vacinas, que fazem parte do calendário de imunização, estão em falta em alguns postos. Ou seja, o abastecimento e distribuição de insumos seguem esbarrando no desmonte do SUS.
E para aqueles que dizem que criticar é fácil, difícil é solucionar, eis a minha contribuição: profissionais técnicos em cargos de gestão, sem apadrinhamentos; qualidade de gestão, com planejamento estratégico, com eficiência, eficácia e equidade; estabelecimento e cumprimento de metas, com processos de trabalho; avaliação de desempenho do servidor; gastos x verba em caixa; demanda x recursos humanos; foco na atenção primária (a porta de entrada do SUS); abastecimento de insumos e instrumentos, e valorização do servidor.
Porque os servidores, sempre digo, são parte da solução, e não do problema.