O título acima é um verso consagrado por Cazuza na década de 1980 e que a cada eleição se faz mais presente e atual no Brasil. E neste 2014 as palavras do poeta se encaixam como luva na campanha presidencial e, mais ainda, na sucessão do governador Agnelo Queiroz (PT) no Palácio do Buriti.
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Desde a conquista da autonomia política, em 1990, quando Brasília elegeu, pela primeira vez, pelo voto direto, o seu governador, estabeleceu-se a divisão ideológica entre vermelhos (a cor do PT) e azuis (os simpatizantes de Joaquim Roriz).
Isto perdurou até 2010, com ligeiras variações. Por exemplo, o nascimento da “terceira via”, em 1998, quando José Roberto Arruda desgarrou do núcleo rorizista para concorrer ao GDF. Perdeu. Mas criou seu eleitorado próprio e chegou ao poder em 2006. É verdade que acabou afastado do cargo em 2010, com o escândalo da Caixa de Pandora. Ainda assim, mantém unido em torno de seu nome um importante grupo político, com cerca de 30% do eleitorado local.
Como todo bom filho à casa torna, Arruda voltou a se aproximar de Roriz este ano. Montou a chapa majoritária com o vice, Jofran Frejat, indicado pelo velho aliado e costurou a coligação proporcional em que contemplou a presença de partidários de Roriz, incluindo suas filhas, neto e sobrinhos. Todos sob a coordenação do ex-senador Luiz Estevão, hoje preso em Tremembé (SP), pelo superfaturamento na obra do TRT paulista nos anos 1990.
O arranjo, pelo menos até agora, tem dado certo. Mesmo após sair da disputa por problemas com a Justiça, Arruda conseguiu levar Frejat (PR) para o segundo turno. Um resultado, inicialmente, improvável, visto que os antigos rivais petistas dominam a máquina administrativa do GDF e Rollemberg surfa na onda da mudança, embalada pelo furacão Marina Silva e pela comoção do desaparecimento precoce de Eduardo Campos num trágico acidente aéreo no dia 13 de agosto, em Santos, no litoral paulista.
Rollemberg, a exemplo do que fez Arruda em 1998 em relação a Roriz, afastou-se do PT, de quem foi aliado nos últimos vinte anos. E ainda adotou a postura de ataque à gestão de Agnelo. Sua intenção inicial era montar o palanque para o presidenciável Eduardo Campos, mas os ventos favoráveis o impulsionaram à crista da onda. De mero coadjuvante, ele é, hoje, protagonista para suceder o petista.
Percebendo a real possibilidade de chegar ao governo, Rollemberg e seus principais apoiadores estão rasgando o próprio currículo. Em nome de um desejo de mudança, manifestado pela população e detectado pelos institutos de pesquisas de opinião, trocam o discurso de esquerda por acordos imediatistas com Aécio e as forças conservadoras que o cercam.
A situação ficou de tal forma inusitada que o eleitor brasiliense terá dois candidatos a governador no segundo turno apoiando o mesmo presidenciável – Aécio Neves (PSDB). E a petista Dilma Rousseff, que pleiteia a reeleição, não terá palanque na capital da República.
Rollemberg tem ao seu lado os outros dois senadores da cidade – os pedetistas Criatovam Buarque e o recém-eleito José Antônio Reguffe, que obteve mais de 820 mil votos no último dia 5 de outubro. E o socialista ainda exigiu que Aécio não suba no palanque de Frejat, que pediu votos para o tucano durante todo o primeiro turno.
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Em meio a tudo isso está o eleitor à procura de rumo. O brasiliense que sempre optou pela esquerda está como cachorro que cai do caminhão de mudança. Todas as opções o levam para a direita.
E a pergunta não cala: o povo quer mudar o quê? O que significa a “nova política” pregada por Marina no primeiro turno? Rollemberg, Reguffe e Cristovam são de direita? Aécio é de esquerda? Frejat representa a mudança?
Deu um nó no cérebro. Parem o mundo que eu quero descer!