Orlando Pontes e Tácido Rodrigues
Recém-filiado ao MDB, a convite de Ibaneis Rocha, o secretário de Governo José Humberto Pires, 70 anos, é pré-candidato a deputado federal em 2026, embora no meio político especule-se que pode disputar a cadeira de governador. Em entrevista ao Brasília Capital, Zé Pezão, como é conhecido, cravou que o Centro Administrativo, elefante branco criado na gestão Arruda, da qual fez parte, terá uma solução definitiva. “Estamos construindo isso a quatro mãos. Não posso antecipar. Mas é desejo do governador Ibaneis entregar o Centrad. Ele não deixará nada para trás”.
O homem forte do GDF cravou, ainda, que a Praça do Relógio será entregue à comunidade de Taguatinga no dia 5 de maio e garantiu que a atual administração está empenhada em reaquecer o comércio do centro da cidade, prejudicado pelas obras do Túnel Rei Pelé. “O Na hora é uma grande sacada. Já tratei deste assunto com a Secretaria de Justiça e Cidadania. Em breve teremos uma solução”. Sobre a possibilidade de concorrer ao Buriti, ele é enfático: “Estamos fechadíssimos com a Celina”.
O senhor acredita que o Na Hora pode reaquecer o comércio no centro de Taguatinga? – Sim. A notícia que eu posso trazer para a comunidade de Taguatinga é que nós aprovamos a requalificação de todas as regiões lindeiras ao centro. Fiz uma reunião com o governador Ibaneis para levar a ele as obras prioritárias que serão licitadas até o mês de junho, que dá algo em torno de R$ 2,5 bilhões. A gente quer entregar tudo isso, até a saída dele deste mandato, em abril de 2026. O que não terminar, fica para a governadora Celina. Aproveito para informar que a Praça do Relógio será entregue no dia 5 de maio. Estamos revitalizando todo o centro da cidade, com a boulevard que nós fizemos em função da passagem do túnel que beneficiou toda a população que gira em torno de Taguatinga. Sobre o comércio, eu concordo que precisamos de alguma coisa que possa trazer mais movimento para o centro. O Na hora é uma grande sacada. Eu já tratei desse assunto com a Secretaria de Justiça e Cidadania. Eles estão pesquisando dois prédios para ver qual seria melhor. O administrador de Taguatinga também já fez essa interlocução. Em breve teremos uma solução.
Como o GDF está tratando os empreendedores em termos de políticas públicas, crédito e segurança jurídica? – A gente mede isso com o nosso crescimento econômico. Brasília tem cinco anos que cresce mais do que a economia nacional. Os primeiros anos do governador Ibaneis foram para arrumar a casa, simplificar processos e equalizar impostos. Antes nossos impostos eram maiores que os de Goiás e Mato Grosso. Hoje, o alvará para a construção de casas é liberado em sete dias. Você abre uma empresa em horas. O alvará para prédios, se for projeto grande, sai no máximo em seis meses. Antes, demorava até dois anos. No caso de projeto simples, o tempo varia de 15 dias a 60 dias. Ou seja, o governo destravou a cidade porque conseguiu entrar num processo de simplificação, agilidade, segurança jurídica e que permitiu, com as contas em ordem, dar incentivos. Quando esta gestão assumiu, havia quatro Pró-DF (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Econômico) com mais de 5 mil processos parados e, com isso, os empresários não se desenvolveram. Criamos, então, o Desenvolve DF, com o apoio do Tribunal de Contas e órgãos de controle, em que vamos entregar mais de mil escrituras.
A orientação do governo é fazer obras em todo o DF? – Sim. São 6.500 obras. Serão de R$ 15 a 16 bilhões em investimentos nestes dois anos restantes de governo. Isso é fruto de uma relação extraordinária com o setor produtivo. O governador escalou um grupo de secretários e presidentes de empresas muito competentes. Temos parcerias espetaculares com a Federação do Comércio, com a Câmara de Dirigentes Lojistas, com o Sindicato da Construção Civil, com a Associação de Empresas do Mercado Imobiliário, com a Associação Brasiliense de Construtores, entre outras. Nossos gabinetes são abertos ao diálogo. O governador recebe todo mundo. Ele não tem secretária para atender telefone. Eu também não. Não durmo sem olhar todas as minhas mensagens. Eu só termino meu dia quando meu WhatsApp está zerado. E eu recebo 700 e tantas mensagens por dia, no mínimo.
O sr. já foi filiado ao PSDB, ao DEM, hoje União Brasil, e agora está no MDB. Será candidato a quê? – Primeiro, só queria dizer que eu acabei me transformando no homem certo, na hora certa, no lugar certo. No final dos anos 1990, início dos anos 2000, eu era presidente da Associação Brasileira de Supermercados. O país entrou naquela desvalorização do real e houve uma disparada de preço. Logo que assumi, me perguntaram como é que os supermercados iam se comportar com a remarcação de preços. Respondi: “Não vamos aceitar essa remarcação, vamos deixar faltar produto na prateleira e deixar escrito que o produto está faltando porque o aumento não está compatível com a realidade”. Essa declaração repercutiu na mídia e o então presidente Fernando Henrique Cardoso pediu para me chamar. Conversamos e eu o convidei para ir à nossa feira de supermercados. Aproveitei e fiz um pedido ao Paulo Renato Souza, então ministro da Educação, para criar a Escola Nacional de Supermercados. Fomos juntos à feira, fiz um discurso contundente e passamos a ter uma relação muito próxima. Daí veio minha filiação ao PSDB. Anos mais tarde, o governador Joaquim Roriz me convidou para ser administrador de Taguatinga. Em 2006, me desincompatibilizei para ser candidato a deputado federal. Só que aí meu irmão Pires faleceu, eu larguei tudo e fui cuidar das empresas. Neste meio tempo, o [José Roberto] Arruda me chamou para ajudar na coordenação da campanha. No fim, virei secretário de Governo dele. Minha primeira missão foi montar o Buritinga. Mais tarde, houve o episódio da Caixa de Pandora. Voltei a cuidar das minhas empresas.
E em 2018 o saudoso jornalista Paulo Pestana sugeriu seu nome a Ibaneis para ser o “gerentão” do governo… – Exatamente. De fato, o Paulinho foi o cara que falou para o governador ir atrás de mim. E cá estou.
Falando de 2026, Celina Leão é a candidata à sucessão de Ibaneis ou o senhor pode surgir como uma carta na manga do governador? – É a Celina. Eu estou dentro de um grupo que tem um comandante, que tem uma linha bem definida de pensamento. Eu gosto muito das pessoas que sabem o que querem, que tomam decisões firmes. Ibaneis tomou essa decisão, referendada pelo nosso grupo político, e estamos fechadíssimos.
Mas a Celina é do PP e o sr. se filiou ao MDB, o partido do governador… – O governador utilizou um evento nacional, me prestigiou, filiando somente a mim naquele dia. Vejo isso como uma demonstração de gratidão por esse esforço que estamos fazendo juntos. Agora, o mais importante é botar a peça-chave no tabuleiro na hora de se organizar.
E qual a sua posição nesse tabuleiro? – Deputado federal. Estou decidido a ser candidato. Não se discute a possibilidade de outro cargo porque o nosso grupo está pactuado dentro do princípio de manter a unidade e trazer pra perto não só o MDB. Partido que se sente grande, dono de tudo, afugenta os demais e acaba perdendo espaço. A característica do MDB já é agregadora e o governador tem esse princípio bem claro. Ele está trazendo novos quadros para fortalecer o MDB, mas está puxando junto todos os partidos da base.
Que legado o governo Ibaneis deixa para o DF? – O legado de um governo projetado, programado e com visão de longo prazo. Esse governo teve a felicidade de usar o que eu chamo de farol alto, não olhar somente para o dia a dia. Olhou para um planejamento estratégico muito bem feito, com todas as condições de ser realizado. E esse sucesso que nós estamos vivendo já é resultado disso. A próxima governadora, que espero que seja a Celina, terá um legado extraordinário. Estamos com uma carteira de projetos imensa, com hospitais, escolas, creches, tudo. Tudo que ela quiser fazer de infraestrutura está à mão. Temos projetos executados em todas as áreas.
Qual dos possíveis adversários da Celina o senhor considera mais difícil: Leandro Grass ou Ricardo Cappelli? – Tivemos uma belíssima reunião com o Leandro (presidente do Iphan). Tratamos da recuperação da Praça dos Três Poderes, da Feira da Torre, de projetos para melhorar a cidade. Ele é extremamente republicano. Política você tem que fazer no momento certo. É preciso ter a capacidade de discernir o momento da política e o momento do trabalho. E há um trabalho a ser feito. Com relação à esquerda, nós sabemos perfeitamente como é que Brasília funciona. Tem, hoje, um grupo político forte, liderado pelo governador Ibaneis, e há candidatos que concorreram em 2018, em 2022, que têm propostas e são pessoas respeitadas na cidade. Os partidos de esquerda estão desenhando o cenário. O grupo que está no poder é o mais cristalizado, mas logo eles chegarão com uma coisa mais definida.
Na esquerda, está claro, no momento, as candidaturas ao Senado da Erika Kokay e da Leila do Vôlei. Quem seria, no desenho da direita, o vice da Celina? – Este trabalho, de novo eu digo, está na mão do governador Ibaneis. Essa função do vice é importantíssima. A pessoa deve ser de absoluta confiança, que entenda de governo e que traga segurança para quem está no comando.
O sr. participou dos governos Roriz, Arruda e Ibaneis sempre com essa função de trazer sua experiência da iniciativa privada para aplicar no governo. Qual dos três foi mais efetivo nessa proposta? – Cada um tem uma característica diferente e, ao mesmo tempo, são muito similares. Os três têm um pensamento desenvolvimentista. Eles trazem para dentro do pensamento público o pensamento de gestor. Roriz fez isso transformando Brasília, criando cidades novas, tirando aquele pessoal que estava nos barracões. Ele deu um abraço social à cidade. Arruda chegou com grandes transformações urbanas. Trouxe o Buritinga para Taguatinga, com a ideia de um governo mais moderno e mais simplificado. Ele e o Roriz entregaram o metrô. Chega o Ibaneis, um advogado e também empresário, com a mesma visão, de desenvolver a cidade, simplificar, trazer investimentos, fazer de Brasília uma cidade evoluída.
O Centro Administrativo tinha a pretensão de concentrar as principais atividades do GDF em Taguatinga. Mas virou um grande elefante branco. Tem solução? – Terá solução. Nós estamos construindo isso a quatro mãos. Eu não posso antecipar. Mas é desejo do governador Ibaneis entregar o Centrad. Ele não deixará nada para trás.
Qual presente o senhor daria para Brasília no aniversário de 65 anos da cidade? – Estamos vivendo um momento de muita felicidade. Voltei para a vida pública com certa desconfiança. Acabei me motivando, porque eu estou vendo as coisas acontecendo. Quero deixar uma mensagem de esperança, de fé e de ânimo para todos. Brasília é a melhor cidade em termos de qualidade para viver. Acabou de receber o selo Betinho, que a credencia como a terceira melhor cidade do Brasil em atendimento às populações mais carentes, à dignidade da vida. Isso tudo é resultado de um trabalho que está sendo muito bem feito. Em relação ao aniversário, o governador tomou a decisão de oferecer uma festa digna e completa para a população, o que não foi possível nos 60 anos por conta da pandemia. Estaremos lá, nos dias 19, 20, 21 de abril aguardando todo mundo. A programação está completa, inclui todas as crenças juntas, porque aqui é a concentração maior que se tem de todas as características do povo brasileiro. E a festa tem que ter essa visão.
E qual a sua mensagem para Taguatinga? – Para a comunidade de Taguatinga, quero reforçar que estamos montando um programa de requalificação de todas as quadras, praças e equipamentos públicos do DF. O governador destinou R$ 800 milhões para esse programa. E as duas cidades escolhidas prioritariamente são Ceilândia e Taguatinga. Esta última é uma cidade mais antiga, tem muitas ruas que precisam ser remodeladas, trocar asfalto, dar uma arrumada na casa, passar um batom nessa jovem e maravilhosa cidade que a gente tanto ama.