Na primeira sessão da Câmara Legislativa após o recesso de julho, quinta-feira (1º), quem roubou a cena foi o governador Ibaneis Rocha. Em seu pronunciamento, o emedebista reiterou a intenção de encaminhar projetos de privatização da Companhia do Metropolitano (Metrô), da Companhia Energética de Brasília (CEB) e a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb).
Porém, se olhasse para o outro lado da divisa entre o Distrito Federal e Goiás, talvez Ibaneis reavaliasse seu projeto. Lá, o governador Ronaldo Caiado (DEM), com quem Ibaneis anda às turras, tem passado maus bocados com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e com a empresa italiana Enel, que comprou a Companhia de Energia do Estado de Goiás (CELG).
Na terça-feira (30), Caiado veio a Brasília se reuniu com o ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos para discutir a privatização da CELG. Apresentou as reclamações de empresários e agropecuaristas há muito tempo reclamam do péssimo serviço prestado pela Enel, vencedora da licitação realizada no governo de Marconi Perillo (PSDB).
Protestos – A Enel Goiás tem sido alvo de protestos constantes e tem a pior avaliação de qualidade nos serviços prestados, segundo a Aneel. “Goiás não merece essa situação”, disse Caiado. Recentemente, o prefeito de Caldas Novas, Evandro Magal, reclamou nas redes sociais da qualidade da companhia: \”Se depender da Enel, vamos morrer no escuro e com sede\”.
A qualidade dos serviços da companhia italiana é alvo desde fevereiro de uma CPI na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Os parlamentares a instituíram para buscar os motivos pelos quais a companhia tem um dos piores serviços no setor em todo o País. Ainda em fevereiro, representantes do setor agropecuário e comerciantes realizaram protestos na sede da Enel, em Goiânia.
\”Não descansaremos enquanto isto não se resolver”, disse, na ocasião, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner. “Os produtores e a sociedade em geral chegaram num ponto em que não aguentam mais a qualidade da energia distribuída em Goiás, além de pagarmos uma das maiores tarifas do Brasil”. E completou: \”Goiás não merece essa situação\”.
Desastre – Caiado vem cobrando melhorias no sistema de distribuição de energia elétrica em Goiás. O primeiro encontro entre o governador e o presidente da Enel, Abel Rochinha, ocorreu em janeiro. Uma foto tirada para divulgação da reunião mostra o chefe do Executivo claramente irritado sentado a uma mesa ao lado de Rochinha.
Em evento no último final de semana em Jataí, no sudoeste goiano, o governador disse aos produtores rurais que a Anel “está impedindo que as indústrias venham para nosso Estado por falta de energia”. E exemplificou: “É um desastre. Estamos implantando uma policlínica em Posse, no nordeste do Estado, uma das mais carentes de Goiás, e estou com a informação de que a Enel não tem como oferecer energia para instalar os equipamentos de exames. E só temos a Enel. Ou ela atende às nossas demandas ou é inadmissível que continue respondendo pela distribuição de energia no Estado”, frisou.
Outro lado – A Enel Brasil informa que não recebeu nenhuma notificação oficial do Governo Federal em relação à concessão de sua distribuidora em Goiás. Desde que assumiu o controle da distribuidora, a Enel Distribuição Goiás tem investido 3,5 vezes mais do que os níveis históricos anteriores à privatização, com melhorias significativas nos índices de qualidade medidos pela Aneel.
Desde então, o DEC (índice de duração média das interrupções de energia) e o FEC (índice de frequência média das interrupções) melhoraram 21% e 39%, respectivamente, melhores índices históricos da companhia. Como resultado desse plano de investimento, a Enel Distribuição Goiás recentemente foi premiada, pelo segundo ano consecutivo, como melhor distribuidora na categoria Evolução do Desempenho da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
Fim da linha – Mas a paciência de Ronaldo Caiado se esgotou. Na reunião com o diretor da Aneel, na terça-feira, o governador teria recebido sinalização do presidente da República, Jair Bolsonaro, para levar adiante um processo de reversão da privatização da CELG.