Há um ano, quando concedeu sua primeira entrevista a um veículo de comunicação lançando-se pré-candidato ao Governo do Distrito Federal, o ex-presidente da OAB-DF, Ibaneis Rocha (MDB), disse ao Brasília Capital que, independentemente de nomes, gostaria de contribuir para o debate de um projeto para “salvar Brasília”. Na terça-feira (16), ao receber novamente a reportagem do jornal, o candidato do MDB ao Palácio do Buriti não era mais aquele outsider praticamente desconhecido da população. Ao contrário: Ibaneis venceu o primeiro turno com 42% dos votos, o triplo do segundo colocado Rodrigo Rollemberg (PSB), que tenta a reeleição. Desde que entrou no jogo da política, Ibaneis Rocha revelou-se um fenômeno eleitoral. Saiu de míseros 2% das intenções de voto no início da campanha, em junho, para a quase consagração já no primeiro turno. Mas, nesta entrevista ao Brasília Capital dez dias antes do pleito, não admite o já ganhou. “Eleição e mineração, só depois da apuração”, ensina. Além do aceno para a pacificação política da cidade, o emedebista amplia o leque de compromissos para sua eventual gestão. Entre outros, a paridade da Polícia Civil com a Federal; um plano de carreira revitalizado para a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros; pesados investimentos na área de Saúde e “salário de juiz” para os professores da rede pública. Ibaneis ainda pretende revigorar as administrações regionais, dando-lhes autonomia e nomeando pessoas a partir de listas tríplices a serem apresentadas pela comunidade. E anuncia a criação de novas Regiões Administrativas no Sol Nascente e Pôr do Sol, hoje pertencentes a Ceilândia.
Diante dos resultados do primeiro turno e das pesquisas, o senhor praticamente só está administrando a campanha para se consagrar o vencedor das urnas no dia 28? – Muito pelo contrário. Não tem ninguém aqui administrando campanha, não. Estamos trabalhando muito. Eleição e mineração, só depois da apuração, e até dia 28 vai ser muita sola de sapato, muita conversa com os eleitores, tratando-os com todo o respeito que eles merecem.
Um ano atrás, o senhor concedeu ao Brasília Capital sua primeira entrevista a um veículo de comunicação como pré-candidato ao GDF, ainda praticamente desconhecido da população. Hoje, segundo as pesquisas, três em cada quatro eleitores declaram voto no senhor. A que atribui uma subida tão fulminante? – Em primeiro lugar, quero agradecer essa oportunidade que foi nos dada um ano atrás e esta que estamos tendo agora. Eu trabalho muito com pesquisas e todo mundo sabia que o DF queria o novo, queria um candidato que representasse a melhoria da cidade, que viesse para ajudar a comunidade e não se ajudar. Então, durante esse período o que fizemos foi mostrar que existe esse novo; um novo com qualidade, que tem 25 anos na advocacia, que passou a vida toda trabalhando, desde os 11 anos de idade. E essa mensagem foi possível de chegar às pessoas exatamente pela imprensa, nos dando a oportunidade de nos tornarmos conhecido, e as redes sociais. E também pela caminhada que fizemos junto com a população.
O senhor também conseguiu fazer o contraponto ao governo, assumindo compromissos que o atual governador não teria cumprido, como o reajuste dos servidores… – A rejeição dele não é só por esses compromissos que têm sido assumidos e não cumpridos com as categorias e a população do DF, mas eu acredito muito mais – pelo tamanho da rejeição – porque o atual governador conseguiu trair todos os compromissos da campanha dele, e também ter traído as pessoas que o ajudaram a chegar ao governo. Tanto é que caminha para terminar quase que abandonado, sozinho. Partidos que estiveram com ele, como o PT, a REDE e o PDT, não estão mais. Demonstra que essa ausência de compromisso dele com as propostas e as pessoas faz com que ele seja uma pessoa que caminha sozinha.
Já o senhor declarou, no início do segundo turno, que não queria acordo com os adversários derrotados no primeiro turno, mas esses partidos estão aderindo à sua campanha… – Eu acho que essa proposta de fazer uma nova política, que foi aceita pela população do DF, faz com que os partidos se aproximem. E eu notei nisso uma possibilidade de a gente fazer um grande projeto de união no DF para salvar a nossa cidade. Então, todos aqueles que estão vindo sem pedir cargos, sem pedir administrações regionais, sem querer agrupar as pessoas dentro do governo, eu estou recebendo pelas propostas e pelo compromisso de melhoria da nossa cidade. E nós também temos uma Câmara Legislativa para ter um relacionamento harmônico, independente, com respeito. Os partidos existem e devem ser respeitados. Agora, dentro do meu governo não vai ter troca-troca, nem nenhum tipo de aliança que não seja a favor da sociedade.
O senhor surgiu como um outsider, entrou no MDB por uma exigência da legislação eleitoral, e é o favorito para vencer a eleição. Terá cacife para formar um governo sem o toma-lá-dá-cá tão conhecido em Brasília… – Eu não vou atuar na forma do troca-troca em momento algum. É uma forma que deu errado tanto no DF como no âmbito federal. Então, o nosso programa vai ser cumprido com pessoas competentes. E aí elas podem até estar filiadas a partidos políticos, mas elas vão ser nomeadas pela competência, pelo compromisso. E elas vão ter liderança. E essa liderança, caso eleito, serei eu.
“Dentro do meu governo não vai ter troca-troca, nem nenhum tipo de aliança que não seja a favor da sociedade”
Como será a escolha dos secretários, diretores de empresas e administradores sem a interferência de partidos? – O critério vai ser meritocracia, conhecimento da área. O critério vai ser a eficiência da realização do serviço público que vai ter que ser executado.
Os administradores regionais estão sem poder, sem autonomia. O senhor pretende valorizar as administrações? – Eu quero devolver a autonomia a todas elas. Isso é uma ação judicial que eu movi enquanto presidente da OAB e que foi julgada procedente pelo Tribunal de Justiça para que haja participação da população na indicação dos administradores. Eu quero recriar as administrações, todas possíveis, e colocar lá um grupo enxuto.
Criaria novas administrações? – Eu acredito que se faz necessário. Por exemplo, uma região como o Sol Nascente, com 120 mil habitantes, não tem uma administração. A grande parte dos municípios do Brasil tem muito menos habitantes que isso e todos têm prefeitos, vereadores, Magistratura, Ministério Público, delegacias. Então eu quero dotar essas cidades com administrações regionais que possam solucionar os problemas diários, como buracos, esgotos, cuidar dos jardins, das calçadas. Tem muita coisa que um administrador pode fazer e que tira a sobrecarga de trabalho do órgão central.
Mas essas administrações hoje não possuem sequer equipamentos para essas tarefas… – Vou equipar as administrações. Vou deixar todas elas equipadas para atender nossa comunidade.
E qual será o critério para a escolha dos administradores? – Primeiro eu vou nomear por um prazo determinado. Durante esse período nós vamos ouvir a comunidade para que ela traga três nomes e eu faça a indicação de um. E se não corresponder às expectativas da sociedade perderá o cargo e nós vamos indicar outro. Quem nomeia, demite.
O senhor tem percorrido o DF de ponta a ponta. Quais os problemas mais graves apontados pela população? – O problema mais grave do DF é a Saúde, sem dúvida nenhuma. As pessoas estão morrendo nas filas dos hospitais sem atendimento médico. Os hospitais não têm capacidade de atender a população. Os postos de saúde também não têm a menor condição; os centros de saúde estão abandonados. É dada uma atenção básica lá na ponta, mas foi tirada a retaguarda, que era o atendimento dos postos e centros de saúde. As UPAS estão incompletas e também não conseguem atender, e isso sobrecarrega a rede hospitalar, que hoje não tem condições de executar o trabalho que deveria.
O modelo do Instituto Hospital de Base funciona? – Eu não acredito nesse modelo. Falta transparência. Não contrata por concurso público, não compra por licitação. Eu não acredito em modelo que não tenha transparência. Ganhando as eleições, eu quero verificar o funcionamento desse instituto, recriar a Fundação Hospitalar e fazer a transferência dos contratos que já estão feitos, se eles tiverem dentro da legalidade, para a Fundação. Se não estiverem dentro da legalidade, eu vou desfazer.
Um ano atrás, quando fizemos nossa primeira entrevista, o senhor disse que, em se tornando governador, uma das formas de reativar a economia local seria resolvendo a questão fundiária, com a regularização de terras. Como avançaria nesse projeto? – O governador atual recebeu uma legislação que permite a regularização de todos os terrenos do Distrito Federal na situação que eles se encontram. E ainda não conseguiu chegar a um número. Mesmo ele falando em 60 mil escrituras, é muito pouco. Aqui no DF nós temos muito mais para regularizar. Isso é uma forma de gerar emprego, porque no momento que você entrega a escritura a pessoa pode tirar um alvará para fazer uma reforma, ir ao banco pegar um empréstimo para construir uma casa. Isso gera emprego para o pedreiro, o mestre de obras, o carpinteiro. Essa regularização também passa pelos comércios das cidades, pelas áreas do DF onde está todo mundo trabalhando sem alvará. Todo mundo sem alvará porque o Rollemberg não faz essa regularização.
Outra área sensível é a segurança. O senhor tem melhor relação com as lideranças da Polícia Civil do que com as da PM, que declararam apoio ao seu oponente. Como será o tratamento? – Faltou um pouco de informação neste caso. Eu estou muito bem com a PM e com o Corpo de Bombeiros. Tivemos uma grande reunião, onde todas as propostas foram colocadas para eles de forma bastante clara. Então, graças a Deus, nós estamos muito bem com a PM, com a Civil e com os Bombeiros.
A paridade da Civil com a Federal está garantida? – Nós vamos garantir a paridade; garantir ajustes para a PM e recompor nossos quadros, porque a nossa população carece muito de segurança.
“O professor tem que ganhar o mesmo salário de um juiz, porque é ele que forma o juiz”
E os professores? – No meu governo os professores vão ser prioridade, porque quem forma todas as categorias são os professores. Eu quero deixar bem claro que o diálogo vai ser implementado a partir do primeiro momento com os sindicatos da categoria, e nós vamos construir uma proposta de sermos a melhor educação do País. O DF tem que ser exemplo de educação para todo o Brasil. Vamos fazer isso num período muito curto, dando aos professores aquilo que eles merecem. O professor tem que ganhar o mesmo salário de um juiz, porque é ele que forma o juiz. Então, se eu não der conta de fazer que o professor ganhe o teto do funcionalismo público, nós vamos conceder tudo aquilo que eles merecem. Com dignidade para essa profissão lindíssima.
Qual a expectativa que a população de Brasília pode ter em eleger o senhor como governador? – A perspectiva é de um governo com muita honestidade, com muita competência e muito trabalho e dedicação para a resolução dos problemas do DF. Sem olhar pelo retrovisor. Olhando sempre para a frente e abraçando cada vez mais as pessoas e acolhendo os mais carentes. Fazer com que o empresariado volte a trabalhar e a acreditar na nossa cidade para gerar emprego, renda e arrecadação de tributos. Isso vai dar à população tudo aquilo que ela precisa: Saúde de qualidade, Segurança de qualidade, Educação em primeiro lugar no País. E dando conforto às nossas famílias, para que elas vivam muito bem e voltem a sonhar. Eu quero que todos tenham as oportunidades que eu tive na vida, para que, trabalhando, a gente consiga vencer e dar dignidade à nossa população.