Júlio Pontes
O governador Ibaneis Rocha (MDB) confirmou, na segunda-feira (15), que enviará um projeto de lei para a Câmara Legislativa autorizando a venda do Centro Administrativo (Centrad). A expectativa dele é de aprovar o PL logo após o recesso parlamentar de janeiro.
O complexo, localizado entre Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, foi projetado para ser a sede dos órgãos públicos do GDF. Formado por 16 prédios, com 182 mil metros quadrados de área construída, o Centrad começou a ser construído em 2007 e foi concluído há 12 anos, mas nunca funcionou.
Chegou a ser “inaugurado” no último dia do governo Agnelo Queiroz (PT), em 31 de dezembro de 2014. Mas o sucessor Rodrigo Rollemberg (PSB) não ocupou o espaço, seguindo recomendação do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT).
Em 2018 um grupo de trabalho criado pelo ex-governador socialista chegou à conclusão de que o melhor a se fazer era anular o contrato de concessão firmado entre o GDF e as construtoras Via Engenharia e Odebrecht. Em novembro daquele ano, quando Rollemberg já havia perdido a eleição, as equipes de transição dele e do sucessor Ibaneis Rocha chegaram a visitar o imóvel em busca de uma solução.
“LIXO” – Nas duas eleições que venceu, Ibaneis prometeu que daria uma finalidade ao ‘elefante branco’. Mas não conseguiu. No início de 2025, o governador anunciou que faria um edital de concessão para ocupação do espaço. Em abril, o secretário de Governo, José Humberto Pires, confirmou, em entrevista ao Brasília Capital, que o impasse teria uma solução definitiva ainda nesta gestão.
“Estamos construindo isso a quatro mãos. Não posso antecipar, mas é desejo do governador Ibaneis entregar o Centrad. Ele não deixará nada para trás”, disse à época.
Esta semana, ao anunciar que venderá o Centrad por R$ 600 milhões (menos da metade do valor gasto para erguê-lo, de R$ 1,5 bilhão), Ibaneis classificou o conjunto de prédios como “lixo”.
“Nós vamos vender o prédio do Centrad, que foi uma ilusão do megalomaníaco do [José Roberto] Arruda [ex-governador cassado em 2010 em meio ao escândalo da Caixa de Pandora]. Vamos pegar a autorização da Câmara Legislativa e vender aquele lixo que o Arruda inventou”, declarou Ibaneis.
CULPA – A menos de um ano das eleições, o tema certamente será amplamente discutido pelos candidatos à sucessão de Ibaneis. A maioria dos postulantes alguma certa “culpa no cartório” em relação ao Centrad: Arruda (PSD) foi quem criou o projeto fracassado; o PT, de Leandro Grass, executou e entregou a obra sem condições de funcionamento na gestão Agnelo; o PSB, de Ricardo Cappelli não deu finalidade ao complexo durante quatro anos de Rollemberg; a atual gestão, que será representada pela vice Celina Leão (PP), também não deu providências nos oito anos de Ibaneis.
Com todos os problemas criados desde 2007, quem ainda pode se salvar do estigma do Centrad é Ibaneis, caso a Câmara Legislativa o autorize a vender o complexo para a iniciativa privada. A pergunta que fica é: quem compraria um espaço de 182 mil m² construído para ser a sede de órgãos públicos? E qual destinação daria à obra?