Tersandro Vilela (*)
Planejar férias já foi sinônimo de horas intermináveis de pesquisa, muitas ligações e guias de viagem volumosos. Hoje em dia, com um simples toque na tela do celular, a inteligência artificial (IA) é capaz de criar roteiros personalizados, sugerir destinos e até encontrar as melhores promoções de passagens e hospedagem.
No Brasil, um dos países mais ricos em diversidade turística, a IA está mudando a experiência de viajar, trazendo praticidade, mas, também, levantando questões sobre privacidade e o impacto da tecnologia no setor.
Plataformas de hospedagem e transporte, como Booking e Airbnb, já utilizam algoritmos avançados para analisar os hábitos dos usuários e prever suas preferências. A IA sugere pousadas aconchegantes na Chapada dos Veadeiros ou um apartamento charmoso em Copacabana, muitas vezes antes que o viajante perceba o desejo de ir para esses lugares.
Aplicativos como o Google Travel integram previsões climáticas, horários de voos e recomendações de restaurantes em um único lugar, elevando o smartphone ao posto de melhor amigo do turista. Ou quase.
O impacto vai além da praticidade. No setor de turismo sustentável, a IA está ajudando a promover destinos menos explorados, reduzindo o fluxo em pontos turísticos superlotados, como Jericoacoara ou Gramado.
Startups brasileiras, como a SolTour, utilizam IA para sugerir experiências em comunidades tradicionais ou ecológicas, incentivando o viajante a se conectar com a cultura local.
Essa tecnologia pode ajudar a descentralizar o turismo e estimular economias regionais, mas também levanta um alerta: será que a IA está realmente promovendo escolhas conscientes ou apenas lucrando com dados pessoais?
Para os viajantes internacionais, ferramentas como o Google Lens permitem que brasileiros traduzam cardápios ou placas em tempo real em qualquer lugar do mundo.
Aplicativos de concierge virtual, como o ChatGPT, auxiliam na criação de roteiros baseados em interesses específicos, como trilhas na Serra da Mantiqueira ou passeios gastronômicos em Salvador.
Mas não se engane. Nem tudo são flores digitais. O avanço da IA no turismo levanta questões sobre a influência dos algoritmos nas escolhas dos viajantes. Apesar da eficiência, a falta de transparência em muitos sistemas gera dúvidas sobre se as recomendações refletem preferências reais ou apenas interesses comerciais.
Ao abrir caminho para essas inovações, também devemos nos perguntar: estamos viajando de forma mais inteligente ou apenas nos tornando turistas automatizados?
(*) Jornalista pós-graduado em Filosofia e especialista em Liderança: gestão, resultados e engajamento