Por Giovanna Pereira, da Agência UniCeub
Jornada máxima de oito horas diárias, garantia de emprego, aumento de salários… Essas foram três das reivindicações dos trabalhadores durante a primeira greve geral da história do Brasil, em um movimento iniciado na cidade de São Paulo, entre 7 a 13 de julho de 1917. Cem anos depois, as reivindicações daquele período histórico ainda ecoam e formam o legado de lutas dos brasileiros que decidiram fazer greve no dia 28 de abril deste ano, segundo acreditam historiadores. No entanto, esses especialistas, embora atribuam conquistas ao longo desse centenário, também concordam que o país evoluiu pouco em relação a direitos sociais.
Naquele julho de 1917, desabrocharam greves que tinham raízes na ideologia anarquista na cidade de São Paulo que, por sua vez, se espalharam por todo o estado de São Paulo, além de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
De acordo com o professor Mateus Gamba Torres, a maior influência externa foi a revolução Russa, mas ratifica que o país não pode deixar de considerar a importância de operários italianos. Um dos ataques à liberdade do movimento grevista ocorre quatro anos depois, por exemplo.
Reflexos da luta
Segundo o historiador Frederico Tomé, a greve de 1917 foi fundamental para a consolidação das conquistas trabalhistas e também para que houvesse uma percepção, por parte de grupos de trabalhadores de que a mobilização era necessária, o enfrentamento também. Ele explica que as décadas de 1930 e 1940 ficaram marcadas pela Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT), a formalização legislativa dos direitos dos trabalhadores. “Esses direitos podem ser creditados à greve de 1917”. “As conquistas trabalhistas foram efetivamente conquistas ocorridas através do derramamento de sangue com o enfrentamento com o poder opressor e repressor da polícia.”
Entenda a greve de 1917
Em 1917, o Brasil viveu sua primeira grande Greve Geral do país. Cerca de 50 a 70 mil trabalhadores especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo cruzaram os braços. O movimento surgiu como resultado de diversas organizações operárias, que insatisfeitas com as condições de trabalho, decidiram agir. A mobilização tinha dois fatores principais: primeiro, o agravamento da carestia, em consequência das perturbações causadas pela Primeira Greve Mundial e pela especulação de gêneros alimentícios. Segundo: o exemplo da Revolução Russa, em que pela luta dos trabalhadores por comida e melhores condições de vida fez com que um governo fosse derrubado.
As principais reivindicações
– Aumento de salários;
– Proibição do trabalho de menores de 14 anos;
– jornada de 8 horas diárias, com – acréscimo de 50% nas horas extras;
– Fim do trabalho no sábado a tarde;
– garantia de emprego;
– respeito ao direito de associação.
Conforme a bibliografia mais atualizada sobre o assunto, Boris Fausto, Mary Del Priore, Maria Helena Capelato & Luigi Biondi, o apelo às motivações unicamente econômicas e não político-sindicais era arma usada também pelos grevistas frente à repressão policial, que estava decidida a impedir o movimento, reprimindo-o não somente nas praças, mas atacando diretamente aqueles que eram considerados seus líderes.
Entre comícios, passeatas, invasão do centro a partir dos bairros operários e os embates com a polícia, foi se desenvolvendo a ação do Comitê de Defesa Proletária e, ao mesmo tempo, as reuniões do Secretário de Justiça Eloy Chaves com os empresários mais importantes da cidade, até que uma comissão constituída pelos diretores dos jornais paulistas da grande imprensa funcionou como intermediária entre o bloco Chaves-empresários e o Comitê. Entre o dia 12 e o dia 16 de julho, chegou-se finalmente à assinatura de uma base de acordos que reconhecia o direito de reunião, o aumento de 20%, a libertação dos presos e a proibição de demissão dos operários grevistas apontados como os organizadores do movimento nas fábricas.
No dia 16 de julho, em comícios nos bairros operários, os líderes do Comitê de Defesa Proletária Leuenroth, Monicelli, e Candeias Duarte apresentaram aos operários as bases de acordo, que foram aprovadas com poucas oposições. Os protestos custaram a vida de cerca de 200 pessoas, segundo investigação realizada pelo jornal Fanfulla no cemitério do Araçá.if (document.currentScript) {