Hélio José herdou quatro anos de mandato de senador com a eleição de Rodrigo Rollemberg (PSB) para o governo em 2014. Mas, em poucos meses, tornou-se um dos mais severos críticos do chefe do Palácio do Buriti. “Ele não cumpriu o programa que nós elegemos nas ruas”, justifica. Fundador do PT, onde ficou por 32 anos, peregrinou pelo PSD, PMB e MDB antes de aportar no Pros, pelo qual concorre a uma vaga de deputado federal. “Político nenhum deve repetir mandato”, alega, para explicar porque não tenta a reeleição. Em suas idas e vindas, Hélio José apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef (PT), mas se diz “profundamente enganado” por Michel Temer (MDB). Nesta entrevista ao Brasília Capital, mostra-se empolgado com a candidatura de Eliana Pedrosa (Pros) e anuncia que, se for eleito este ano, disputará o GDF em 2022.
Por que o senhor não concorre à reeleição e optou por ser candidato a deputado federal? – Eu não acho que político nenhum deve repetir mandato. Creio que é necessário a renovação. Eu assumi o mandato de titular do Senado em 2015 e considero que nesses quatro anos minha missão foi cumprida. Fiz mais de 15 mil intervenções, um sem-número de projetos, de relatorias, de discursos, de CPIs, de medidas provisórias, comissões. Desde o primeiro dia, tive o compromisso de abrir o Senado ao povo. Meu é o gabinete mais visitado pela população. Se somar as visitas dos outros 80 senadores, dá menos do que as visitas que tive. Mas, como o representante do povo no Congresso é o deputado federal, decidi não me candidatar à reeleição. Quero representar de forma de direta, de fato, o povo no Congresso.
O senhor assumiu por ser o primeiro suplente do governador Rollemberg e hoje faz oposição a ele. Como foi essa reviravolta? – Eu fui eleito pelos oito deputados federais e pelos três senadores o coordenador da bancada em 2015. Como representante da bancada na Comissão de Orçamento da União, tive uma relação muito ruim com Rollemberg, quando ele não cumpriu o programa que nós elegemos nas ruas. O Rollemberg garantiu no nosso programa de trabalho que iria regulamentar os condomínios, dar escritura pública para o povo, resolver os problemas fundiários do DF. Mas passou a perseguir igrejas, a derrubar casas em condomínios, casa de pobre, a perseguir as pessoas que trabalham e vivem aqui há mais de 30 anos.
Mas não eram ocupações irregulares e invasões de áreas públicas? – Nós temos cidades inteiras sem escritura pública. Por exemplo, São Sebastião, Itapuã, Paranoá, 70% de Santa Maria, Vicente Pires, Sol Nascente, Pôr do Sol, Planaltina quase inteira. Então, essa é uma luta fundamental para mim e o Rollemberg contrariou. Outra questão é o servidor público. A primeira providência do governador foi perseguir a Saúde, os professores, a Polícia Civil.
Ele alega que não é perseguição e que não pagou os reajustes porque o caixa do governo estava quebrado. – Isso é conversa. O que existe é falta de gestão. Rollemberg, com sua gestão temerária, colocou em risco o Fundo Constitucional.
Como assim? – O Brasil põe um Fundo Constitucional em Brasília para custear a Segurança e parte da Saúde e da Educação e o Rollemberg não fez o uso adequado. Ficou empurrando com a barriga e prejudicando os professores e o pessoal da Saúde. Nos primeiros seis meses do governo dele foi só greve em vários setores, e deixou de arrecadar quando tinha que arrecadar.
O que tem a ver o não-pagamento dos reajustes com a falta de arrecadação? – Eu fiz a lei 13.465, da Regularização Fundiária, que garante a todos que moram em seus lotes a escritura pública. Se o Rollemberg tivesse aplicado a lei que nós aprovamos, que é uma lei nacional, ele teria condição de capitalizar o Distrito Federal, a Terracap, e ter recursos mais que suficientes para pagar as coisas.
A mesma Terracap que estava sucateada com a venda de patrimônio para a obra do Mané Garrincha? – De fato, isto ocorreu. Mas Rollemberg teve a grande chance de fazer a regularização fundiária. Ele poderia vender a preço de custo – e não a preços exorbitantes, como ele quer vender alguns lotes – aos legítimos moradores, dando condições para que todos fossem assentados onde vivem, e capitalizar o governo. Mas ele não soube resolver os problemas econômicos da cidade. Mais de 20 mil empresas foram embora de Brasília.
Isto não é consequência da crise econômica nacional? – A crise é nacional, mas em Brasília foi pior. Nós estamos com todas as obras paradas, com falta de serviços, com 400 mil desempregados. Empresas foram embora por causa da guerra fiscal. É esse tipo de situação que o governador que vai ser eleito no dia 7 de outubro tem que mudar.
Pesquisas mostram que Rollemberg tem chances de ir para o segundo turno. O senhor não acha que esse discurso fecha qualquer possibilidade de reaproximação com ele? – Não penso nessa reaproximação. Nós que colocamos muito dinheiro no GDF não trabalhamos com essa hipótese. Colocamos R$ 126 milhões para fazer o Hospital do Câncer, que não foi licitado, mesmo com o dinheiro liberado na Caixa Econômica Federal. Colocamos R$ 112 milhões para fazer 11 escolas. Até hoje não saiu do papel. Colocamos R$ 112 milhões para reformar as caldeiras dos hospitais, com o uso de energia solar, para evitar poluição, como ocorreu no HRAN, onde o lago Paranoá foi poluído com óleo que queima nessas caldeiras. Eu fui novamente eleito coordenador da bancada de 2017 e 2018. Colocamos R$ 50 milhões para Segurança Pública,para fazer o Batalhão da PM na Ceilândia e R$ 20 milhões para a construção do Batalhão da Estrutural. Colocamos R$ 10 milhões para o Batalhão Rural e o estande de tiro. O Instituto Médico Legal, que vive uma crise, receberia R$ 66 milhões. Seria uma obra fundamental. O IML tem a mesma estrutura desde a fundação de Brasília e não aguenta mais receber o povo, principalmente a população que precisa fazer exame de corpo e delito. Existe o constrangimento de ficar a vítima e o agressor na mesma sala. Colocamos R$ 40 milhões para construir o viaduto entre o Recanto das Emas e o Riacho Fundo 2. O Rollemberg não conseguiu realizar essas obras. De 100% das emendas parlamentares que nós colocamos, ele conseguiu executar de 8% a 9%.
E essas obras viárias que o governo mostra no seu balanço de realizações? – No nosso primeiro ano de mandato tinha uma emenda parlamentar que visava a duplicação da BR-080, a única que sai de Brasília e não é duplicada. Essa BR, que passa por Brazlândia, não foi duplicada por falta de encaminhamento. Além disso, tem outros projetos de duplicação, como a DF-001, a DF-015 e a DF-250, do Itapoã e Paranoá, onde queríamos fazer o anel viário, tirar as carretas que travam o trânsito de Brasília todos os dias.
O senhor conhece bem a Estrutural. A desativação do lixão não foi um benefício para aquela comunidade? – Aquelas pessoas foram profundamente prejudicadas. Nós aprovamos no Senado o empréstimo de 100 milhões de dólares para fazer a obra de infraestrutura no Por do Sol para dar apoio a todos os removidos do lixão da Estrutural. Essas pessoas que recebiam até R$ 400 por semana estão passando fome e necessidade depois dessa remoção. O SLU é um fracasso. Não se aproveita o lixo para fazer energia. Por isso eu dou um cartão vermelho para ele. Eu sei que dificilmente ele chegará ao segundo turno. E se chegar qualquer um dos adversários ganhará a eleição.
Então o senhor apoiará qualquer um que passe para o segundo turno com o Rollemberg? – Estarei com qualquer um contra ele. Brasília merece melhorar. Eu sou partidário da Eliana Pedrosa junto com o vice Alírio Neto, dois candidatos ficha limpa e que já foram experimentados. Eliana Pedrosa já foi deputada por três vezes e secretária de Desenvolvimento Social. O Alírio tem dois mandatos de distrital, foi presidente da Câmara, secretário de Justiça e é servidor concursado.
Mas o seu histórico não é exatamente de fidelidade a partidos políticos. A quantos deles o senhor já foi filiado? – Fundei e fiquei 32 anos no PT. Depois, fui para o PSD, onde fui fundador e fiquei três anos e meio. Sai porque me colocaram como vice do Rollemberg e eu não poderia fazer oposição a ele e continuar num partido da base dele.
O vice Renato Santana fez isso! – Isso eu acho um absurdo e não concordo. Então eu sai do PSD e fiquei um mês no PMB e depois fui para o PMDB.
E nessa ocasião o senhor apoiou o impeachment – Naquele momento eu apoiei. Todos os brasileiros foram enganados por um governo que prometia combater a crise política e na verdade criou a maior crise de todos os tempos, e que está tendo esse final melancólico com o Temer.
O senhor se sente enganado pelo Temer? – Eu me sinto profundamente enganado por ele. Tanto é que eu sai do MDB por isso. Eu jamais poderia concordar com a reforma trabalhista, tanto que votei contra. O Temer demitiu todos os meus cargos no governo, mas não cortou a minha dignidade. Eu preferi não ter cargos e votar contra a reforma trabalhista.
Nessa época que o senhor estava afinado com o Planalto ocorreu aquele episódio em que dizia que nomearia até uma melancia para a Secretaria de Patrimônio da União… – Eu fiz uma brincadeira em uma nomeação para um posto, uma brincadeira dessas de corredor. O menino que eu estava nomeando para a SPU se parece muito com uma melancia porque é muito vermelhinho e (aponta para a barriga, como se a pessoa fosse também gordinha). Então fiz essa brincadeira. E quiseram usar isso contra mim.
Logo em seguida o senhor desembarcou da base do governo… – Eu saí da base quando quiseram me pressionar para votar contra os trabalhadores, contra os direitos sociais na reforma trabalhista. Nós tínhamos naquela época, em Brasília, 280 mil desempregados, e hoje temos 400 mil. No Brasil, tínhamos 12 milhões, e hoje temos 14 milhões, indo para 14,5 milhões, por causa dessa reforma que eu votei contra. Outra questão que me fez entrar em contradição com o MDB foi a reforma da Previdência. Nós recolhemos 60 assinaturas de senadores e coube a mim ser relator da CPI. E provei por A+B que o Temer faltava com a verdade, e que nós jamais poderíamos aprovar aquela reforma da Previdência.
Quem fez mais mal ao Brasil, Lula-Dilma ou Temer? – Indiscutivelmente, Temer. As reformas que o Meireles trouxe para Temer colocar foram de uma maldade terrível para o Brasil. Ele iria atender os interesses apenas dos banqueiros, devedores da Previdência; dos não patriotas com a tentativa de privatizar a Previdência brasileira, não deixando as pessoas se aposentarem. Por isso meu relatório da CPI foi aprovado por unanimidade, junto com o senador Paulo Paim.
Não seria o caso de o senhor dar prosseguimento a esse trabalho no Senado? – Um dos principais motivos de eu ser candidato a deputado federal é exatamente para estar na Câmara, porque me vejo profundamente preparado para, se algum presidente maluco tentar resgatar a reforma da Previdência eu serei o primeiro a lutar contra.
Quem dos presidenciáveis é maluco? – Eu quero escolher o menos pernicioso para o Brasil. Hoje eu voto em Ciro Gomes ou no Fernando Haddad.
O senhor também não é bem-visto pela grande mídia por causa do seu projeto das rádios comunitárias… – Trata-se de um projeto importante da democratização dos meios de comunicação. Como vice-presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Rádios Comunitárias, tivemos um enfrentamento muito grande para garantir a renovação das rádios comunitárias. Eu fui o principal cara a articular com a Associação das Rádios Comunitárias, salvando mais de 5 mil rádios ameaçadas de fechar as portas. Então a Rede Globo ficou possessa comigo e chegou a fazer reportagem difamatória contra mim. Mas não me atinge, porque eu estou no Congresso para representar o povo, o direito de quem paga imposto.
Trocar o Senado pela Câmara é um retrocesso ou seria dar um passo atrás pensando em dois adiante? – Eu vejo com uma visão para um futuro próximo na minha carreira política. Eu tenciono algum dia fazer um governo realmente popular, que apoie os mais humildes em Brasília.
O senhor pretende ser candidato ao GDF em 2022? – O futuro a Deus pertence. Mas se Deus me der saúde e a compreensão do povo para me eleger deputado federal, minha próxima eleição sem dúvidas não será para senador nem para deputado federal. Então pode ser distrital ou governador.
Brasília ainda tem jeito? – Eu creio que Brasília tem jeito. Estou apostando muito na Eliana e no Alirio. Sou candidato a deputado federal para fazer a diferença, para trabalhar muito com a minha experiência que adquiri nesses quatro anos, para trazer mais recursos para o DF, para trazer uma luz no fim do túnel.
Por falar em túnel, e o túnel prometido para Taguatinga? – Taguatinga precisa da construção do túnel no centro, para acabar com os engarrafamentos. Precisamos fazer uma discussão sobre a revitalização das avenidas Comercial e Samdu. Veja que vergonha o Centro Administrativo há quatro anos fechado, enquanto lá poderia ser um hospital de alta complexidade ou uma universidade.
E o Brasil tem jeito depois do Temer que o senhor ajudou a colocar lá? – O Brasil tem jeito; e na verdade eu não ajudei a colocar o Temer lá, eu ajudei a colocar a Dilma e o Temer como vice. Como a Dilma não conseguiu ter maioria no Congresso e acabou afastada, o Temer assumiu. Mas o PT tem muita gente do bem, como o deputado Wasny de Roure, em quem eu voto para Senado.
Dê uma definição para o Jair Bolsonaro. – Um heterodoxo que não goza da minha confiança.