A Cáritas, ligada à Igreja Católica, vem sofrendo uma série de ameaças por parte de grileiros que há dois anos tentam ocupar a área cedida à entidade, em 2019, pelo Governo do Distrito Federal (GDF). A denúncia é de 23 instituições que compõem o Fórum das Organizações Sociais de São Sebastião.
A área fica no Capão Comprido, próximo a saída de São Sebastião para Unaí, onde a Cáritas desenvolve atividades assistenciais junto a 130 indígenas venezuelanos que moram, trabalham e tiram dali o sustento de suas famílias, além de alguns idosos, e 45 crianças e adolescentes.
Também são assistidas pelas ações sociais e de segurança alimentar da Cáritas cerca de 500 pessoas da comunidade, em parceria com o Ministério Público (MPDFT), Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), Centro de Referência de Ação Social (CRAS), escolas, (Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Centro de Saúde, Conselho Tutelar e Defensoria Pública do DF.
Operação de retirada
A área total cedida pelo GDF à Cáritas tem 9 hectares, que, até o momento, só ocupa 2 hectares, onde está instalada a sede da entidade e onde vivem os 130 indígenas e suas famílias. Os outros 7 hectares estão cercados de um lado pela Terracap, mas vem sendo invadido pelo outro, onde não existe cerca.
O coordenador de projetos da Cáritas, Paulo Henrique de Oliveira, diz que na segunda-feira (3) houve uma derrubada das casas construídas pelos grileiros. “Foi uma operação legítima e dentro da lei, que prevê a retirada das pessoas que invadem terras públicas”, disse Oliveira.
“A Cáritas só vê problemas quando ocorrem excessos da Polícia Militar ou dos agentes do DF Legal. Mas a retirada, embora seja sempre num clima de tensão, é para proteger as próprias famílias que foram enganadas e perderam tudo: o dinheiro e o terreno achavam que tinham adquirido legalmente”, destaca Paulo Henrique.
O coordenador da Cáritas lembra que a entidade luta por moradias para as pessoas em situação de vulnerabilidade, mas tudo tem que ser feito dentro da legalidade. “Reconhecemos que tem gente de boa-fé que caiu no golpe dos grileiros. Aqui em São Sebastião tem uma indústria de grilagem de terras. Até um cartório falso tinha na cidade. Eles são muito fortes e, por isso, fazem ameaças”.
Nos últimos meses, centenas de lotes foram vendidos irregularmente e os compradores começaram a construir casas sem nenhum acompanhamento da Secretaria de Habitação (Seduh). A área em questão é usada para plantio de alimento para as famílias que estão autorizadas a morar no local.
Mesmo depois que a PM e o DF Legal começaram a retirar os invasores e derrubar as casas irregulares, os grileiros continuam a delimitar os lotes. “As ameaças são feitas abertamente, até na frente de crianças, das nossas famílias, já que não temos seguranças e somos de uma comunidade pacífica. E, não raro, aparece alguém armado na entrada da nossa sede”, aponta Oliveira. Segundo ele, as terras vão ser trabalhadas e só não estão produzindo ainda por conta das invasões que ocorrem quase que diariamente. “Não temos como fazer nada nas terras com pontos de invasão”, concluiu.