Gal Costa cantou que da próxima vez que viesse a Brasília levaria uma flor do Cerrado como souvenir. Os terroristas envolvidos na depredação dos Três Poderes preferiram outra lembrancinha. Reportagem da Agência France Press mostra que uma indústria de souvenires se criou para atender essa clientela e que se revela bastante rentável para os adeptos do bolsonarismo.
Não se trata de camisetas ou de toalhas, que viralizaram no período pré-eleitoral. Chaveiros, canecas de cerâmica com fotos do vandalismo ocorrido em 8 de janeiro, e da temporada no acampamento do QG do Exército com o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos – Eu estive lá”.
Tudo é vendido nas bancas de camelôs, misturado às tradicionais réplicas da escultura dos Dois Candangos, da Catedral ou dos azulejos de Athos Bulcão. “É uma recordação histórica de uma luta que foi difícil”, disse à France Press, Agnaldo Noleto, de 52 anos, vendedor de souvenires turísticos.
Facetas macabras
Cada caneca custa R$ 50. Essa realidade mercadológica revela facetas macabras que caberá aos psicólogos e sociólogos analisarem. No meio artístico, contudo, a iniciativa causa repulsa. “Sinceramente, canecas com imagens do ataque aos Três Poderes refletem o total desconhecimento, da parte dos vândalos, de nossa curta história democrática, da relevância de Brasília enquanto patrimônio cultural da humanidade, além de ir contra o que mais prezo como artista, que é a crença das artes como instrumento de promoção da igualdade, do compartilhamento do conhecimento, da diversidade cultural, da capacidade de imaginação humana entre outras coisas maravilhosa que as artes nos proporcionam. Porém, jamais para promover e exaltar a violência”, comentou a artista plástica Júlia dos Santos Batista, que foca sua arte em elementos candangos. Ela questiona, ainda, se a receita da venda de tais objetos não estaria servindo de fonte de custeio para novas ações antidemocráticas.
Troféu
O nonsense dos vândalos terroristas demonstra que não estão satisfeitos com a destruição que perpetraram com os ataques às instituições democráticas. Querem um troféu por sua performance delinquente. Não me espantaria se cacos dos vidros do STF, do Congresso ou do Planalto passassem a ser vendidos como troféus de guerra.
Ops! Melhor não dar a ideia. Vai que o Noleto se interesse.