Ana Luisa Araujo e Fabio Goes
Maior mobilização dos povos originários do Brasil, o Acampamento Terra Livre (ATL), montando desde segunda-feira (7) em Brasília, será encerrado na sexta (11). Além dos debates sobre o marco temporal para demarcação das terras indígenas, ganhou destaque na quarta-feira (9) a visita do ministro Alexandre Padilha, durante a plenária de saúde.
Médico de formação, Padilha aplicou vacinas contra a gripe em lideranças indígenas e integrantes do governo, em uma ação simbólica que marcou o início da campanha de imunização dos povos originários. “Proteger a vida dos povos indígenas é proteger a diversidade”, afirmou o ministro.
Além de lideranças como Joenia Wapichana (presidente da Funai), Ricardo Weibe Tapeba (secretário nacional de Saúde Indígena) e a deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também participaram do ato.
CAMPANHA – A campanha de vacinação contra a Influenza começou no dia 7 de abril nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste, e será iniciada no segundo semestre Norte, durante o chamado “inverno amazônico”. Segundo Padilha, além da gripe, o Ministério da Saúde lançará, no fim de abril, o “Mês da Vacinação dos Povos Indígenas”, com apoio da Opas e logística especial para alcançar terras de difícil acesso.
A operação contará com aeronaves, cadeia de frio móvel e energia solar. “Todos os distritos sanitários indígenas do país contam hoje com médicos fixos, o que fortalece a presença do Estado nesses territórios”, destacou o ministro.
Padilha também chamou a atenção para dois grandes desafios: a logística nas regiões mais remotas e o avanço das fake news, que têm impactado até profissionais de saúde indígena. “O negacionismo chegou até aos nossos povos. Precisamos enfrentá-lo com informação e presença ativa”, disse o ministro.
MOBILIZAÇÃO – Realizado em Brasília de 7 a 11 de abril, o ATL 2025 reúne milhares de indígenas de todo o Brasil e de países vizinhos. Com plenárias, manifestações e encontros com autoridades, o acampamento pauta temas urgentes, como a demarcação de terras, o combate aos retrocessos ambientais e os impactos das chamadas “energias verdes” em territórios tradicionais.
Damião Pixoré, liderança indígena do Rio Grande do Norte, destacou a luta das 23 comunidades do estado, o único do país sem nenhuma terra indígena demarcada. Ele denunciou a falta de funcionários na Funai e nos órgãos ambientais, o que há anos emperra processos em curso. “A demarcação é uma dívida histórica do Estado brasileiro com os povos indígenas”, disse.
MARGEM EQUATORIAL – Outros participantes alertaram para a ameaça de exploração de petróleo na Margem Equatorial, no Amapá, e os impactos de parques eólicos e solares no Nordeste. “As empresas vendem a ideia de energia limpa, mas destroem sítios sagrados e aceleram a desertificação da Caatinga. A energia nem fica aqui, vai para fora”, criticou Pixoré.