Os sintomas da troca do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta pelo oncologista Nelson Teich, na quinta-feira (16), começam a ser percebidos. E o principal deles não é o cancelamento das entrevistas diárias em que os técnicos do governo atualizavam as informações acerca da pandemia do novo coronavírus. A dor mais aguda é no caixa dos governos estaduais e municipais.
Mesmo quando Mandetta ainda comandava o Ministério da Saúde, os governadores de estados e prefeitos que mantinham medidas mais rígidas de isolamento social já sentiam dificuldade na interlocução com Brasília para o repasse de recursos para combater a covid-19. Após a assunção de Teich, os recados tornaram-se mais contundentes.
O amargo remédio prescrito pelo Presidente da República que o ex-ministro relutava em ministrar aos demais entes federativos começa a surtir efeitos sob a mão pesada de Teich. No fim de semana, após participar de eventos de ataque aos poderes Judiciário e Legislativo, 20 chefes de Executivos estaduais publicaram uma carta aberta de apoio aos presidentes do Senado, DaviAlcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Porém, 7 governadores se abstiveram de subscrever o documento: Ratinho Junior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG), Antônio Denarium (PSL-RR), Wilson Miranda (PSC-AM), Gladson Cameli (PP-AC), Coronel Marcos Rocha (PSL-RO)Ibaneis Rocha (MDB-DF).
O paranaense é filho do apresentador de TV Ratinho, aliado histórico de Bolsonaro. Zema, além de comandar um estado falido, é a estrela de uma legenda que, apesar do nome Novo, defende o que há de mais conservador na política nacional. Os outros 5 estão à frente de estruturas locais que não sobrevivem sem as doses extras de dinheiro vindo do poder central.
Como o documento emitido pelo Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio a dois desafetos do Presidente da República – Alcolumbree Maia –, ao apor suas assinaturas ao manifesto estariam expondo seus conterrâneos aos feitos colaterais do corte de recursos. Até porque, o texto também diz que as declarações de Bolsonaro afrontam princípios democráticos – o que é verdade, mas o Presidente tenta negar.
Alinhamento – Em Brasília, o governador Ibaneis Rocha sabe que não pode contrariar Bolsonaro. A capital da República não tem como sobreviver sem o dinheiro do Fundo Constitucional, que banca despesas em três áreas estratégicas – Segurança, Saúde e Educação – e ainda precisa de financiamentos para obras e projetos sociais. Assim,embora também não possa admitir isso publicamente, o governador começou a flexibilizar a circulação de pessoas pelas ruas.
Semana passada, o DF se alinhou às medidas defendidas por Bolsonaro e prometeu reabrir os comércios no dia 3 de maio. O deputado distrital Leandro Gras (Rede) percebeu a mudança de postura de Ibaneis. Em vídeo publicado nas redes sociais, citou pontos em que os discursos dos dois passaram a se assemelhar.
Ibaneis, o primeiro governador a suspender aulas nas redes públicas e particular, entre outras duras medidas de isolamento social, criticou o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta e defendeu que o presidente “usasse a caneta” para demiti-lo. E ainda falou sobre a baixa mortalidade do vírus.
Nesta segunda-feira (20), ao conversar com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro, com a costumeira falta de respeito ao dirigir-se a jornalistas – “não quero papo com vocês” – voltou a dizer que há histeria no combate ao coronavírus. E sem qualquer respaldo médico ou científico, sinalizouque a quarentena deve acabar nesta semana. E tratou com naturalidade sobre a possibilidade de 70% a 80% das pessoas serem infectadas pelo coronavírus. Será?