O livro “Gente Ultraprocessada”, do médico e pesquisador britânico Chris van Tulleken, é um marco importante no debate público sobre alimentação e saúde. A obra revela como as grandes indústrias de alimentos utilizam estratégias sofisticadas de marketing, lobby político e influência científica para promover produtos ultraprocessados, mesmo sabendo de seus impactos negativos sobre a saúde das pessoas.
Com uma linguagem acessível e investigação profunda, Moss expõe como esse sistema afeta, especialmente, populações mais vulneráveis, contribuindo para o aumento de doenças como obesidade, diabetes e hipertensão.
Nesse contexto, ganha ainda mais relevância a classificação NOVA, desenvolvida pelo grupo de pesquisa do Nupens/USP, coordenado pelo professor Carlos Monteiro. Essa abordagem inovadora categoriza os alimentos com base no grau de processamento, e não apenas nos nutrientes isolados, trazendo à tona os efeitos dos alimentos ultraprocessados sobre a saúde.
Apesar de críticas de setores ligados à indústria — muitas vezes, com conflitos de interesse — a NOVA tem sido amplamente reconhecida por órgãos internacionais como uma ferramenta científica robusta e coerente com a realidade alimentar contemporânea.
Um dos maiores exemplos da adoção dessa classificação está no “Guia Alimentar para a População Brasileira”, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014, que completou 10 anos em 2024. O Guia foi pioneiro ao incorporar a classificação NOVA e se consolidou como referência mundial, por aliar ciência, cultura alimentar e promoção da saúde.
Ele orienta a população a evitar os ultraprocessados e valorizar a comida de verdade — aquela preparada com ingredientes naturais, respeitando os hábitos alimentares e a sustentabilidade.
A leitura de “Gente Ultraprocessada” é essencial para todos que se preocupam com o futuro da alimentação e da saúde pública. Em tempos em que a desinformação é disseminada por interesses comerciais, é urgente defender políticas baseadas em evidências independentes e no direito das pessoas a uma alimentação adequada.
Valorizar o conhecimento científico livre de pressões da indústria é proteger a saúde coletiva e fortalecer a soberania alimentar.