Mesmo tendo estudado Teologia num seminário presbiteriano, em São Paulo, acabei, por algum tempo, optando pelo agnosticismo, ou seja, duvidando da existência de Deus e ficando a um passo de me tornar ateu, o que me deixava de certa forma angustiado. Mas, atualmente – muito embora não acredite na divindade convencional das Igrejas católicas e evangélicas -, felizmente recuperei a minha fé antiga, graças a pessoas dotadas de atributos surrealistas, a exemplo do austríaco Mozart, que aos seis anos de idade promoveu um recital de piano diante de uma platéia boquiaberta, em Salzburgo, sua cidade natal.
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Esses seres humanos excepcionais são classificados como gênios, fenômeno que ninguém consegue explicar, nem mesmo os estudiosos cientistas. E basta conferir nos compêndios de História: eles são muitos, em todas as modalidades de Artes e, para mim, comprovam a existência de Deus. Nesse rol, o meu preferido é o escritor russo Fiódor Dostoiévski, que morreu fisicamente aos 59 anos, mas que continua vivo e presente nos 14 livros que deixou como herança para o mundo, um dos quais é considerado sua obra-prima literária: Crime e Castigo. Sobre o tema, um cineasta francês produziu o filme Nous sommes tous des assassins (Nós somos todos assassinos).
O celulóide, por sinal premiado, foi inspirado na ação tresloucada do protagonista desse romance, o jovem estudante moscovita Raskólnikov. Ao ser humilhado, ele mata com um pequeno machado uma velha agiota, ato extremo também praticado pelo leitor, que se torna cúmplice ao se envolver, emocionalmente, pelo mesmo motivo, para se tornar um assassino cruel. A propósito, a minha amiga Gilda Fuks, conhecida médica baiana, certo dia me informou que ela e seus colegas psiquiatras se reuniam para estudar os tipos patológicos dos personagens dos livros do autor soviético, porque eles existiam de verdade como se fossem reais, de carne e osso, embora resultados de mera ficção, nascidos no ventre da cabeça de um escritor.
Eis aí um mistério: nem mesmo se tivesse conhecimentos de um médico especialista, como o epilético Dostoiévski conseguiu, com a limitação de seu cérebro, gerar seres humanos com doenças mentais específicas, como se fosse o próprio Criador?
Esta interrogação somente Deus pode responder.