Por Pollyana Villarreal
O desembargador José Divino de Oliveira, da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) determinou, segunda-feira (6), que o Governo do Distrito Federal pague R$ 673 mil para o tratamento de imunoterapia para a técnica de enfermagem Lilia Frutuoso da Silva, 39 anos. O processo assegurou o medicamento de alto custo autorizado pela Anvisa e tramitou em caráter de urgência.
Ela está internada em UTI e precisa de 18 meses de tratamento para sobreviver a um câncer de colo e útero que se alastrou por todo o seu corpo. Após vários tratamentos invasivos, iniciados em janeiro de 2018, que prometiam 90% de cura, ela perdeu completamente a saúde e a doença aumentou. A família do vigilante Ronald Frutuoso da Silva está ansiosa para Lilian driblar a fraqueza e começar o novo tratamento.
QUIMIOTERAPIA – A promessa inicial fez Lílian encarar cinco sessões de quimioterapia venosa; 22 dias de quimioterapia oral; 25 sessões de radioterapia; e quatro sessões de braquioterapia, que é um tratamento muito dolorido. Mais de 100 dias depois desse choque no organismo, a família voltou ao médico para saber do resultado. “Para minha surpresa, o resultado não foi o que esperávamos. Agora, pela medicina, tenho 10% de chances de cura. Além do colo e útero, surgiram vinte nódulos no fígado e metástase no peritônio secundário”, diz Lilian.
Em setembro do ano passado, ela iniciou nova linha de tratamento com oito sessão de quimioterapia, com duas drogas de um tratamento muito tóxico. “Por várias vezes não consegui fazer a quimioterapia em razão da baixa imunidade e hematócrito também. Foram várias hemotransfusões”, conta. No dia 4 de dezembro seria a última sessão, porém, o organismo dela estava muito debilitado. No dia 2 de janeiro, tentou novamente passar por alguns exames e por consulta médica. “Para minha tristeza, a quimioterapia foi cancelada definitivamente. Meu corpo não aguenta mais. Coração, rins e intestinos estão sobrecarregados”.
O médico Augusto Portinari suspendeu o tratamento por temer pela vida dela. Ele pediu, com urgência, o exame PET CT. Sem dinheiro para tentar uma nova linha terapêutica, que é muito cara, Lílian entrou na Justiça para tentar o tratamento de imunoterapia. Ela também precisa de vários outros exames, como ecodoper, cintilografia renal, apontadores tumorais etc.
Nesta semana, Lília voltou a ser internada na emergência e, com a autorização da Justiça, espera uma melhora para iniciar as 36 doses do medicamento de alto custo. O relatório médico indica 300 miligramas a cada 3 semanas durante 18 meses. Com o dinheiro de uma vaquinha realizada recentemente, ela pôde tomar uma única dose de 100 mg/4mL da solução injetável, cujo nome é Keytruda, do laboratório Meck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda.
HEMORRAGIA FOI O ALERTA
Letícia Aparecida Faustino Souza, técnica em enfermagem no Hospital Regional de Taguatinga e amiga de Lília, conta que elas atuaram juntas no Pronto Socorro do Hospital Regional da Asa Norte por 3 anos. Durante um dos plantões no box de emergência do HRAN, Lília começou uma hemorragia violenta e ali mesmo foi atendida.
No Centro Cirúrgico foi detectada a hemorragia uterina e diagnosticada, de forma parcial, a existência de um câncer. Depois de uma biópsia e ressonância, foi confirmado o diagnóstico: “Um câncer muito velho, com característica de existir há pelo menos 10 anos. Mas até então ela não havia sentido nada. Fazia exames preventivos, que também não detectaram nada. Nesse período, inclusive, ela teve um filho que hoje está com 4 anos”, conta.
Lilian iniciou o tratamento até chegar num exame denominado PET CT, que o Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre. Para fazê-lo, teve de pagar mais de R$ 3,5 mil. Esse o exame é para detectar se ainda havia células malignas. E, em vez da notícia prometida de 90% de cura, detectou que o câncer havia se alastrado. Apesar de ter diminuído no útero, o câncer avançou para o fígado e peritônio. Ela recomeçou a quimioterapia com doses mais fortes e se desgastou muito.
“O câncer aumentou e a saúde dela diminuiu. Com bolsa de colostomia e muito vômito, Lília não consegue se alimentar e está muito debilitada. A única alternativa hoje para ela é o tratamento de imunoterapia, que não tem no SUS, e cada dose custa R$ 18.700,00”, conta Letícia.