O relógio (coração) do velho jornalista balançou descompassado e, pela primeira vez, ele pensou sobre a morte. E temeu. Se fosse um religioso eclético, conheceria algo de São Francisco de Assis, o santo que mais personificou a figura de Jesus: \”Se eu soubesse que morreria hoje, continuaria capinando meu jardim\”. Isso é fé. Isso é consciência de que a morte não é o fim. \”É apenas dobrar a curva da esquina\”, como ensinou o poeta Fernando Pessoa.
Fernando, supondo que sua religião esteja certa, nada tema. Após a morte, dormirá, e somente acordará ao toque das trombetas no juízo final, para ser julgado. O sono não podes temer. O julgamento, suponho que também não, já que tens sido uma boa pessoa. Então, por que o medo? Será que não confias nos ensinamentos da tua religião? Na dúvida, é melhor tomar um conhaque escondido de Dona Ledinha e aguardar o chamado como se não fosses ser chamado.
Ah, Fernando! Se tua religião estiver certa, coitados de nós videntes, que vemos os \”mortos\” e nunca vimos nenhum deles dormindo. E tu, como todo mundo, vais todas às noites ao “país dos mortos\” e, quando acordas, pensas que foi apenas sonho.
Pois é. Essas cidades que veres nos sonhos, que não conheceste em vida, e as pessoas com quem conversas e sentes até como se fossem conhecidas, são os chamados \”mortos\” em seus \”países\” do além, muito semelhantes ao nosso.
Quando tu e os demais humanos valorizarem os sonhos e os anotarem ao acordar, como recomendou Freud, verão que ficarão cada vez mais claros até se tornarem projeções (estado de consciência fora do corpo ).
Aí então a morte será apenas a mudança para o país que já conheces, e verás que, em vez de ser uma separação da família, será o encontro com a família que já está lá, muito maior do que a atual.
Amor também se aprende
Joaquim Nabuco e o novo Brasil
Dom Hélder Câmara do Além