Eleito para o primeiro mandato de deputado distrital com 29.420 votos, o delegado Fernando Fernandes (Pros) se licenciou três dias após tomar posse para assumir a Administração de Ceilândia. Retornou em outubro ao Parlamento e viu seu gabinete citado em investigação da Polícia sobre a prática de rachadinha na Câmara Legislativa. Nesta entrevista exclusiva ao Brasília Capital, ele nega envolvimento. “Em ocasiões esporádicas, fizemos vaquinhas para ajuda ou para algum evento”, garante.
O senhor pratica rachadinha? – Não. Nós nunca praticamos, até porque abominamos essa prática, que seria exigir, cobrar ou impor aos servidores comissionados a devolução de parte dos seus vencimentos. O que já houve aqui, em algumas situações esporádicas, foram vaquinhas para pagar algum tipo de evento, de ajuda.
Se algum servidor se recusa a participar dessas vaquinhas sofre alguma sanção? – Nenhum tipo, até porque as vaquinhas partem dos próprios servidores. É uma coisa bem espontânea. Nós nunca cobramos. Não temos nem caixinha do escritório, aquela do cafezinho e do açúcar, como às vezes a gente costuma ver. Eu mesmo compro os mantimentos e os servidores ajudam de forma espontânea.
O senhor está praticamente estreando na legislatura, porque, três dias após tomar posse, foi convidado pelo governador Ibaneis Rocha e aceitou ser administrador de Ceilândia. Como está sendo esse aprendizado? – Costumo brincar que a gente estava a 300 Km/h na Administração e estamos a 60 Km/h na Câmara, mesmo com essa quantidade de projetos para serem aprovados. É um ritmo bastante diferente. Aqui é um local mais de discussões, de ideias, de votações. Mas estou me readaptando bem, devagarinho. Na administração a gente estava sempre em contato direto com a população, na rua ou no gabinete.
Como é sua relação com a suplente Telma Rufino? – Muito boa. Sempre tivemos um excelente relacionamento, desde antes da campanha.
Investigações da polícia apontam que pessoas ligadas ao senhor e a ela estariam à frente da prática da rachadinha. O senhor acredita que elas não fizeram isso? – Eu prefiro acreditar que não, porque é uma prática que já foi combatida tantas vezes. Então, até que se prove o contrário, eu prefiro acreditar que não houve essa prática tão nefasta aqui na Câmara, principalmente no nosso gabinete.
O senhor sempre anda cercado de seguranças. De quê o senhor tem medo? – (riso) Só dos castigos de Deus. Tem alguns policiais que me acompanham desde que eu iniciei na polícia. Já estão aposentados, trabalharam comigo na Administração, estão trabalhando aqui na Câmara. E quando nós saímos na rua, sempre somos demandados pela população em situações de crimes, flagrantes.
Isto não é abuso de autoridade? – Tive o prazer de ser denunciado por abuso de autoridade por estar prendendo traficantes, ladrões e usuários de drogas, especialmente em portas de escolas em Ceilândia. Digo um prazer porque acabaram reconhecendo o trabalho que a gente faz. É igual ao hino do Flamengo: Uma vez delegado, sempre delegado. Em uma das situações prendemos dois elementos com 1,5 Kg.
Como administrador, era legal atuar como policial? – Sim. O Código de Processo Penal prevê que qualquer pessoa, independentemente de ser policial ou não, em uma situação de flagrante, pode fazer a abordagem e solicitar apoio policial para condução dos infratores para a delegacia.
O senhor anda sempre armado? – Sempre. Só não no plenário, porque não pode ou fere o decoro parlamentar.
Entre os mais de 100 projetos que a Câmara vai votar até o dia 13 de dezembro, qual o senhor considera mais importante aprovar para melhorar a vida da população de Brasília? – Neste momento, eu creio que a Lei de Orçamento, porque, a partir daí, quando souber o dinheiro para cada Pasta, para cada Administração, para cada ação, é que se pode começar a fazer um planejamento para melhorias.
Para onde o senhor destinou as suas emendas parlamentares? – Principalmente para a educação, que eu creio ser a base. Reformas de escolas, aumento de salas de aulas no Assentamento Santa Luzia, Porto Rico, Sol Nascente e Pôr do Sol, que são cidades novas e têm pouquíssimas salas de aula. Também colocamos emendas na Novacap, na CEB, além da segurança e da saúde.
Considerou positiva a separação de Sol Nascente e Pôr do Sol da Administração de Ceilândia? – No primeiro momento eu fui contra. Na época, tive uma conversa com o governador. Não sobre a criação de uma nova RA, porque creio que a comunidade de Sol Nascente e Pôr do Sol merece, mas pela falta de estrutura da administração. Hoje, a Administração de Sol Nascente e Pôr do Sol funciona precariamente, com apenas 7 servidores, dependendo em tudo da Regional de Ceilândia e dos demais órgãos, principalmente da Novacap.
O senhor pretende retornar para o Executivo?– Eu creio que a minha cota no Executivo foi bem executada. Foram 11 meses trabalhando de domingo a domingo, nos feriados, debaixo de sol e chuva. Bem intenso mesmo. Agora pretendo ficar um bom período aqui na Câmara. Não digo que não vou voltar para o Executivo, porque a gente não sabe o dia de amanhã. Mas a minha intenção é passar um bom tempo aqui na Casa.