A policial Valderia Peres estava separada do marido havia 40 dias. Morreu na sexta-feira (11) e por incrível que pareça estava lotada na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher II (DEAM II) em Ceilândia Centro, cidade onde aconteceu a morte da 24ª mulher assassinada este ano no DF. Anariel Rosa Dias. Ela foi morta a golpes de foice pelo corpo e na cabeça pelas mãos do homem de quem havia se separado há pouco.
A história se repete no DF, o enredo é quase sempre o mesmo: Existe um casal. homem e mulher que por algum motivo se desentendem. E isso já vem acontecendo há algum tempo na vida dos dois. Até que a mulher pede separação, pois já não aguenta mais viver sob pressão, gritos e até mesmo pancadas que marcam o relacionamento. Inicialmente o homem aceita, mas em pouco tempo o que havia sido “acertado em comum acordo” volta a ser motivo de brigas. O homem não aceita a separação e não cogita nem pensar em ver a sua amada ou ex- amada com outra pessoa. Aí o ex- aproxima-se da mulher, mesmo que a Justiça tenha decretado afastamento com medida protetiva, começa a conversar, chama para sair, pede uma nova chance. Se a mulher insiste no NÃO é esfaqueada como aconteceu com a policial Valderia, dentro da sua casa em um condomínio em Arniqueiras, na sexta(11) ou é atacada com chave de fenda caso de Deililane Alves Santos Conceição assassinada pelo ex-marido, pai de seu filho, em frente à escola do menino de 12 anos, no início do mês em São Sebastião.
Na última quarta(16) a vítima mais recente deste “serial killer” que habita a cabeça dos ex-maridos violentos, ciumentos e possessivos do Distrito Federal foi Anariel, morta a golpes de foice em uma parada de ônibus de Ceilândia pelo seu ex que momentos após o crime foi preso e levado à DEAM II. O nome do assassino ainda não havia sido divulgado até o fechamento desta edição.
Leandro Peres Ferreira, 46 anos, o assassino da policial Valderia, não teve a mesma sorte do assassino da foice. Ele saiu do condomínio em Arniqueiras andando a pé, abandonou um carro vermelho, que usou para entrar no condomínio, na porta da casa de Valderia e depois seguiu para Taguatinga, onde foi flagrado por uma câmera saindo de uma loja em uma bicicleta.
Algumas horas mais tarde abandonou a bicicleta e pagou R$ 3 mil para um motorista de aplicativo levá-lo para fora do Distrito Federal. Foi encontrado pela PMGO próximo de Porangatu (GO) e resistiu à voz de prisão. Atirou contra os policiais que revidaram o ataque e Leandro levou a pior. Morreu antes de chegar ao hospital central de Porangatu em uma ambulância do Samu que os policiais acionaram após o confronto.
Providências- A Polícia Civil do Distrito Federal não parece ter uma estratégia que realmente ajude as mulheres do DF a se defenderem ou pelo menos se afastarem de seus algozes. O painel de dados de feminicídio da capital aponta que 75,4% dos assassinatos de mulheres são cometidos dentro de casa e com “arma branca”, como facas e tesouras.Talvez este seja o maior dificultador para as autoridades.
Entre o Plano Piloto e todas as Regiões Administrativas do DF, Ceilândia lidera os casos. A região contabiliza 23 feminicídios entre 2015 e 7 de agosto deste ano. Em seguida, aparece Samambaia, com 17 casos.
Ainda segundo os dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 78% das vítimas de violência eram mães. De todas as vítimas 67,7% não registraram ocorrência contra o autor e 65,7% sofreram agressão anterior ao feminicídio. Esses dados gerais distanciam-se um pouco do perfil do assassinato de Anariel Rosa Dias, na quarta (16). Ela não tinha filhos com o seu algoz e já tinha medida protetiva contra ele. O homem foi preso em flagrante e já tinha cinco passagens pela polícia, por conta de ocorrências na Lei Maria da Penha. Mulheres denunciem!