Não. Não é plágio à Clarisse Lispector. Ela é uma musa inimitável. O que estou falando aqui é exatamente dessa clandestinidade que nos é imposta por nós mesmos e pelos que nos cercam. A felicidade é uma visita que nem sempre agrada os visitados. A felicidade é linda, rica, autossuficiente e profundamente, insuportavelmente, feliz! Quem aguenta?
Estamos em casa e de repente eis que bate à porta Ela, a Felicidade. O que fazer? Esconder a tristeza embaixo do sofá? Fingir serenidade? Usar clichês manjados? Não adianta. Nada vai disfarçar o profundo incômodo que se sente ao se deparar com aquilo que buscamos, mas que nunca conseguimos sequer tocar. O mais próximo que chegamos dessa “tal felicidade” foi na música do Tim Maia e em comercial de margarina. E aí…
E aí, que de uma hora pra outra a vida te dá um sacolejo, te vira do avesso, te desmonta toda. Você mal consegue soletrar seu nome sem que isso te cause uma certa dúvida. A vida do avesso. O Norte no Sul. E estranhamente você se percebe Feliz. Mas feliz, de um jeito que é totalmente novo pra você. Uma felicidade que parece ter nascido com você, que te sustenta, que te suporta, que te abraça. É um café. Quente e açucarado.
Eis que agora é você a indesejada das gentes. A felicidade em pessoa. Em primeira pessoa. Descobriu-se bela, descobriu-se outra e a mesma. Uma fusão entre dois pontos. A lógica sobre o abismo. Feliz de doer. E como é de verdade, nada te abate, nada te desaponta. Porque você aceita. Aceita o Yin e o Yang. Aceita o mártir e a vilã da novela das oito. Tudo com alegria. Mas não é aquela alegria blasé, falsa. É felicidade.
Mas, lembre-se: nem sempre será bem-vinda. Felicidade, por si só, já é pleonasmo. E, em tempos de recessão, quem aguenta? Economizamos risos, lágrimas, sinceridade, tudo, absolutamente tudo está pela hora morte. E em alguns já se celebra a missa de sétimo dia.
Então, minha amiga, o melhor mesmo é ter este caso secreto com você. Não conte. A felicidade é clandestina.
(*) Anna Ribeiro é escritora