O colorido e a animação que desde 1974 a cada seis meses invadem as ruas do vilarejo de Olhos d’Água, distrito de Alexânia a 90 quilômetros de Brasília, darão lugar ao luto. Na 97ª edição do evento, marcado para o fim de semana de 3 a 5 de dezembro, a praça central, onde sempre ocorreu a tradicional Feira do Troca, não poderá ser ocupada pela população e pelos turistas. Em sinal de protesto, moradores prometem se vestir de preto e pendurar panos escuros, em sinal de luto, nas portas e janelas das casas.
Alegando ser proprietária da área, a Arquidiocese de Anápolis, à qual é subordinada a paróquia local, proibiu a montagem de barracas, palcos e tendas no espaço. Como o prefeito de Alexânia, Alysson Silva Lima, não entrou em acordo com a comunidade, a menos de uma semana da festa os organizadores ainda não sabem onde ela ocorrerá.
Sem poder contar com o poder público municipal, e diante da intransigência do padre Cleyton Francisco Garcia, artesãos, artistas, comerciantes e demais segmentos da população de Olhos d’Água se organizam para levar sua indignação a outras instâncias de poder – estadual e federal. Durante esta semana, se reuniram com técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para iniciar um processo de tombamento da Praça Santo Antônio e reconhecimento da Feira do Troca como bem cultural imaterial do Brasil.
Ocupação – Outra decisão da comunidade, é de contrariar a decisão da Arquidiocese e, durante os dias da Feira, ocupar de forma pacífica a Praça Santo Antônio, por entender que o espaço é público e não de uso exclusivo da paróquia. O temor é de que, sob a orientação do padre e do prefeito, ocorra algum tipo de repressão, com possibilidade de atos de violência.
Além dos artesãos, representantes de manifestações culturais de Olhos d’Água estão mobilizados. Entre eles, o Boizinho, Mamulengo, Lundu, Catira, e os blocos carnavalescos Piranhas, Santinha do Pau Oco e Pinto Caipira. A expectativa é de que o grupo de trabalho criado durante o encontro com o Iphan passe a orientar ações futuras, incluindo a possibilidade de resgatar a Feira do Troca na Praça Santo Antônio já a partir de junho do próximo ano.
Saiba+
A Feira do Troca acontece há 49 anos, na Praça Santo Antônio. Após a 96ª edição, em junho, o padre Cleyton anunciou, durante uma missa na Paróquia Imaculada Conceição, em Alexânia, que construiria, no gramado onde ocorre a concentração, “estações da Via Sacra”, restringindo o acesso de transeuntes.
O Brasília Capital não conseguiu contatos com a Arquidiocese de Anápolis, com o padre Cleyton Garcia, nem com o prefeito Alysson Silva.