Ana Luisa Araujo, Orlando Pontes e Tácido Rodrigues
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido Freire, assume o compromisso de unir esforços junto ao GDF e ao empresariado para reaquecer o comércio do centro de Taguatinga – prejudicado durante dois anos pelas obras do túnel Rei Pelé – e que até hoje não recuperou o movimento de antes da obra. “O Na Hora pode ajudar, a médio prazo, a recuperar esta região, que sempre foi pujante”. Ele também defende a flexibilização da Lei do Silêncio, em vigor desde 2008, para gerar mais movimento nos bares e restaurantes do DF. Nesta entrevista ao Brasília Capital, Aparecido também revela que o Sesc terá o maior centro cultural do DF, com cinema, teatro, área infantil e restaurante, na 511 Norte. “Vai ser um local em que as pessoas chegam de manhã com a família e ficam o dia inteiro”, afirma.
O senhor completou quatro anos à frente da Fecomércio e três anos e meio à frente do Sesc e do Senac no DF. Que balanço faz deste período? – Um balanço positivo. Assumimos a Fecomércio no dia 5 de março de 2021 para um mandato tampão. Seis meses depois, assumimos o Sesc e o Senac. [Desde então], começamos a abrir essas entidades para a população, empresários, comerciários, idosos. O Senac com a sua parte de aprendizagem, criando cursos voltados a sindicatos filiados, e o Sesc fazendo o seu trabalho social e de cultura. Uma das iniciativas mais exitosas foi o Sesc Mesa Brasil, que arrecadou, em 2024, mais de dois milhões de quilos de alimentos. Ao todo foram mais de 400 eventos, com a participação de 565 mil pessoas no ano passado.
Esse número inclui também eventos culturais? – Sim. Levamos a dupla Israel e Rodolffo para Planaltina, Emicida e Joelma para Ceilândia, Bruno e Marrone para Brazlândia, rock para o Gama. Essa população passou a ter acesso aos grandes eventos. O Sesc não é só para comerciário, é para todos. Já o Senac tem uma faculdade na 913 Sul que oferece graduação e pós-graduação em tecnologia e inovação.
As dívidas que herdou de gestões anteriores foram equacionadas? – Sim. Fizemos acordos e pagamos. Assumimos ações trabalhistas e todas foram resolvidas. Hoje, o Instituto Fecomércio exerce a sua função e a Federação toma o seu rumo natural. O Sesc e o Senac, como eu disse, cresceram bastante e vêm prestando um bom serviço à comunidade. Agora, nosso objetivo é estar nos quatro cantos de Brasília. O Senac abriu polos de educação em Brazlândia, no Pátio Brasil, em São Sebastião, Santa Maria e outros lugares. O Sesc tem uma nova unidade que deve ser aberta, até o final do ano, no Núcleo Bandeirante. Compramos um lote em Planaltina para acomodar o Sesc e o Senac. Abrimos uma unidade do Sesc na Asa Norte, a primeira na parte norte de Brasília. O Senac vai funcionar no Setor Comercial Sul, em uma área de 6.180 metros no edifício Jessé Freire. A inauguração oficial está prevista para 24 de março.
Que benefícios essa nova unidade poderá trazer para a região a área central da cidade? – Vários. Vai ser o maior centro de educação do DF, em parceria com a Universidade Católica e o Governo do Distrito Federal. Há condições de atrair, principalmente, empresas de tecnologia e inovação. Nosso objetivo é colocar mais de 10 mil pessoas por dia no SCS. Fizemos investimento de R$ 50 milhões para ajudar a revitalizar aquele importante setor. Estamos trabalhando firmemente, em sintonia com o GDF, que transformou o Setor Comercial em área com monitoramento. É justamente a segurança e a movimentação de pessoas que fará com que o setor volte a ser o que era antes.
Na esteira de mais unidades pela cidade, quando o Sesc Garagem será reaberto? – Acreditamos que até o final do ano, porque o Sesc Garagem vai precisar de uma reconstrução. Estamos fazendo obras de acessibilidade. Mas ali é um ponto importante da cultura e, por isso, precisamos modernizar. É necessária uma revitalização muito grande. Não adianta fazer maquiagem. Aliás, falando em cultura, compramos um prédio na 511 Norte e vamos montar o maior centro cultural do Sesc no DF, com 8 mil metros quadrados. Vai ter cinema, sala de teatro, área para crianças, lanchonete, restaurante e sala multiuso. Um local em que as pessoas chegam de manhã com a família e ficam o dia inteiro. A quadra foi escolhida a dedo, já que a 511 Norte é a única que não tem descida para o comércio local, ou seja, vai ter estacionamento amplo.
A Fecomércio planeja alguma ação semelhante à do SCS para reativar o comércio no centro de Taguatinga? É possível articular, quem sabe, a instalação do Na Hora na região? – A movimentação de pessoas é que faz com que o comércio seja impulsionado. Eu entendo que um Na Hora no centro de Taguatinga pode ajudar a recuperar este importante ponto de comércio do Distrito Federal, que sempre foi muito pujante. Vamos dialogar com o governo e com empresários em busca de uma solução, de modo que o comércio de Taguatinga volte a ser o que era. A comunidade reivindica um Na Hora, só que não é apenas a Fecomércio que consegue isso. O poder público, o empresário, a imprensa e a sociedade civil têm que agir juntos.
O maior investimento do GDF na segurança ajudou no desempenho do comércio durante o carnaval? – Claro. Uma coisa interessante de se destacar é que o carnaval foi feito em locais abertos. Antigamente, quando havia bloco no centro de Taguatinga, nas entrequadras do Plano, as pessoas usavam as portas das lojas como banheiro. Havia depredação. Este ano, o GDF colocou, literalmente, a polícia na rua, e não tivemos violência como em anos anteriores. Brasília, hoje, é a nona capital em rota de carnaval no País.
E a cidade recebe gente de todos os cantos do Brasil e do mundo… – Exato. No carnaval, recebemos turistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, da França, de Portugal. O mais importante é você e ouvir deles: “Gostei do carnaval de Brasília porque é seguro”. Sou cidadão honorário de Brasília, goiano de nascimento, e fico extremamente feliz porque aqui é a capital que escolhemos para viver. Quando tem carnaval, você movimenta mais de 52 setores: táxis, aplicativos, supermercados, lojas de fantasia e, principalmente, a área de eventos. De acordo com sondagem do Instituto Fecomércio, o carnaval em 2025 gerou em torno de 850 empregos temporários. Se continuarmos neste ritmo, a folia em 2026 vai ser ainda melhor.
A Fecomércio entende que é possível flexibilizar a Lei do Silêncio e, com isso, aquecer a economia? – A Lei do Silêncio é uma discussão antiga. Estamos trabalhando muito junto aos [deputados] distritais para que haja uma melhoria, sem prejudicar as residências, e os comerciantes tenham mais flexibilidade em relação ao horário. E também aumentar um pouco os decibéis, dentro do que prevê a legislação. Acredito que este ano a gente consiga votar a Lei do Silêncio, que precisa ser aperfeiçoada e é uma discussão que já está madura.
A respeito do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), existem interesses distintos de moradores e do setor empresarial. Qual a posição da Fecomércio? – O PDOT está na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh). De fato, existem interesses de parte a parte. Por isso é que existem as audiências públicas, discussões que têm que ser feitas neste momento, e não quando o texto estiver pronto para ser votado na Câmara Legislativa. Repito: é extremamente importante a participação da sociedade nessas audiências públicas, para que se construa um texto bom para Brasília. Junto com o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (Ppcub), o PDOT vai trazer segurança jurídica à população e aos investidores, o que traz mais investimentos e geração de emprego.
Podemos dizer que a Fecomércio, hoje, é dos principais foros de defesa dos interesses da população do DF? – Uma coisa que tenho sempre dito e feito é colocar que a Fecomércio não defende só o empresário. A Fecomércio defende o emprego. Quando a empresa está forte, gera mais emprego e mais renda. E temos conseguido fazer essa harmonização, de maneira que a sociedade, o Executivo, o Legislativo, os empresários e a imprensa defendam a Capital. Sempre olho para as sugestões que recebo. O que temos feito à frente do Sistema Fecomércio é ouvir e dialogar com as pessoas, para que a gente possa sempre ter paz e garantir o melhor para Brasília.