Porém, a produção em maior escala em Brasília fica por conta da Fazenda Malunga. Comparo a fazenda de Joe Valle e esposa à Aldeia Gaulesa, invencível diante do império romano, 50 anos antes de Cristo. A Malunga resiste ao império do agrotóxico, assim como Obelix e Asterix enfrentaram e derrotaram os romanos.
A Malunga hoje tem uma rede de cinco supermercados orgânicos (dois em Águas Claras, um pioneiro na Asa norte, um no Sudoeste e outro na Asa Sul), é a maior fazenda produtora de hortaliças orgânicas da América do Sul e sempre oferece cursos e oficinas sobre a produção orgânica para movimentos sociais, artistas e pessoas interessadas em plantar e colher alimentos saudáveis.
Neste espaço tenho o dever de prestar reverência às mulheres deste país que sabem o que é semente crioula, fonte de saber para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina Internacional.
A semente crioula é uma cultura milenar e internacional. Em 2007, no 7º Fórum Social Mundial de Nairobi, a mercadoria mais importante na bagagem dos zapatistas eram espigas de milho negro e vermelho, que entregaram de presente ao povo africano em meio a uma mística de resistência cultural e celebração.
Igreja Adventista é o berço do vegetarianismo
Porém, há de se fazer justiça. O berço brasileiro do vegetarianismo vem dos princípios filosóficos da Igreja Adventista Reformista do Sétimo Dia e da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A primeira igreja mantém três restaurantes – dois na Asa Norte e um em Taguatinga. Por exemplo, o Boa Saúde, no Rádio Center, tem mais de 30 anos. A Igreja Adventista Reformista do 7º Dia é a mais radical com seus fiéis. Ao entrar para a igreja, o fiel precisa se converter ao vegetarianismo.
O braço mais antigo que conheço da comida vegetariana veio da Índia, com o Movimento Hare Krishna. Sempre fiz questão de ficar amigo de todos eles, interessado, é claro, nas refeições que serviam após os cânticos repetitivos. Os pratos eram deliciosos.
Porém, este braço que ora só cresce em Brasília corre sério risco após o golpe midiático-jurídico contra a presidenta Dilma e com a prisão de Lula. A indústria do veneno participou do golpe. Para se ter uma ideia da velocidade com que a questão avança, mais de 50 marcas receberam licença para comercialização de novos agrotóxicos no Brasil apenas em 2018. Há quase dois mil novos registros de agrotóxicos, entre químicos e orgânicos, na lista do Ministério da Agricultura.
Bolsonaro incrementa uso de veneno
Além disso, após a posse do presidente Jair Bolsonaro mais de 290 agrotóxicos foram liberados no país, muitos banidos nos países da Europa. Por isso, a ministra da Agricultura, deputada federal licenciada Tereza Cristina (DEM-MS) é mais conhecida como a “musa do veneno” ou mesmo “menina veneno”.
O Congresso Nacional não colabora. Afinal, a ministra presidiu a Frente Parlamentar Agropecuária, conhecida popularmente como a “bancada ruralista”. Com 200 ruralistas vinculadas ao agronegócio, aprovou dois projetos de lei prejudiciais ao povo brasileiro: o PL 6299/2002, que facilita a comercialização e o uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil, e o PL 4576/2016, que proíbe a venda de produtos orgânicos em supermercados.
Para finalizar, deixo uma dica sobre a seriedade do tema. Assista ao documentário do cineasta Silvio Tendler, ex-secretário de Cultura do DF no governo Cristovam: É o Veneno na Mesa (https://bit.ly/2QWwgnA).