Não, não se trata de forçar analogias à famosa série “Narcos”, da Netflix, estrelada por Wagner Moura no papel do traficante internacional de drogas Pablo Escobar, para tornar o artigo mais chamativo e assim persuadir para sua leitura. As eleições colombianas deste ano possuem elementos em destaque que poderiam ser mais uma temporada da famosa série.
No último dia 11 de março, após o acordo de paz assinado com o governo em 2016, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com a trégua do Exército de Libertação Nacional (ELN), guerrilhas que sempre tumultuaram as eleições colombianas, participaram como partido político das eleições legislativas, com cinco cadeiras no Senado e outras cinco na Câmara garantidas para o então ex-grupo rebelde mais poderoso da América, em nome da paz colombiana e nova dinâmica social ao país. As Farc conquistaram cerca de 0,5% dos votos, pouco mais de 85 mil, que não garantiriam sequer as cadeiras que conquistaram via acordo de paz.
A direita colombiana, liderada pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que contesta o acordo de paz, foi a vencedora das eleições legislativas, ainda que não com maioria absoluta, e despontam como força política favorita para vencer as eleições presidenciais do próximo dia 27, e seguir favorita para o provável segundo turno que será realizado no dia 17 de junho.
Iván Duque, 41, senador do partido direitista Centro Democrático, afilhado político de Álvaro Uribe, que é contra o acordo com as Farc, lidera as pesquisas com 41,5% das intenções de voto. Seu principal adversário, com 29,5% das intenções, é Gustavo Petro, 58, ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro do M-19, grupo que supostamente foi associado ao cartel de Medellín, de Pablo Escobar, e que em 1985 matou mais de 50 pessoas no Palácio da Justiça, em Bogotá.
Petro não participou deste atentado, mas por ser favorável ao acordo com as Farc e simpatizante com a figura do falecido Hugo Chávez, pai do chavismo que hoje, liderado por Nicolás Maduro, protagoniza uma das crises humanitárias mais agudas da história recente da América do Sul, vem sofrendo forte campanha acusatória de partilhar dos mesmos princípios chavistas, ainda que critique Maduro e diga que ele é um ditador.
Um detalhe curioso e sintomático é que, além do Brasil, em todos os países da América Latina pelos quais levamos o projeto “Tour Eleições das Américas”, há sempre um grupo popular que, no dia das eleições entoa a frase: “Não vamos deixar nosso país se tornar uma Venezuela!”
Não bastasse os currículos e históricos de relacionamentos envolvidos, no último dia 9 de abril o ex-líder das Farc Jesús Santrich, 51, um dos dez congressistas eleitos em março, foi preso sob a acusação de continuar traficando drogas e fazer extorsões, além de ter sido considerado culpado por um tribunal de Nova York por tentar fazer entrar 10 toneladas de cocaína nos Estados Unidos, e ter sua extradição solicitada.
Este “capítulo da série” fez aumentar as intenções de voto de Iván Duque, que diz que caso seja eleito assinará a extradição imediata de Santrich. Por sua vez, Gustavo Petro defende que Santrich seja julgado pelo Tribunal Especial para ex-guerrilheiros antes de ser extraditado.
Novamente a cocaína pode fazer pender a balança eleitoral colombiana e definir o poder político do país, além de referendar a guinada à direita dos governos das Américas.
No próximo dia 15 o projeto Tour Eleições das Américas embarca para Bogotá, capital da Colômbia, para analisar as estratégias e a reta final do segundo turno da campanha presidencial. Acompanhe esta jornada em nossas redes sociais e exclusivamente no site e no Jornal Brasília Capital.
iHasta la vista, muchachos!