Um dos principais fiadores da eleição do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia Paulo Guedes vê suas propostas ultraliberais perderem força no governo. A não aprovação do congelamento do salário de algumas categorias do serviço público nas medidas de socorro da União aos estados e municípios acendeu o sinal de alerta no Planalto.
Guedes acordou com os senadores que o valor a ser repassado aos entes federativos seria de R$ 130 bilhões, como queriam os parlamentares. Com uma contrapartida: Os salários dos servidores públicos permaneceria
congelado nos próximos 18 meses. Mas a Câmara alterou o texto e o Senado acatou. Assim, a economia caiu de R$ 130 para R$ 43 bilhões.
Ao acatar as emendas propostas pela Câmara, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), conseguiu aprovar seu parecer por unanimidade. No texto, ele retirou do congelamento de salários as categorias “que estejam diretamente envolvidas no combate à pandemia da Covid-19”, como Segurança e Saúde.
Mas também poupou segmentos como o pessoal da Educação. Vitória para o magistério e derrota do superministro. O resultado era esperado, uma vez que Bolsonaro se aproxima cada vez mais do Centrão. Como cada parlamentar representa uma classe ou uma localidade específica, é natural que defenda os interesses de suas bases eleitorais. Para ficar bem com eles, o presidente tem de ceder aos seus pedidos e, na outra ponta, nomear seus aliados para cargos estratégicos.
Congresso – Nos bastidores, chamam atenção as críticas ao ministro. O deputado Marcelo Van Hattem (Novo-RS) usou o Twitter para questionar a retirada das categorias do reajuste: “Paulo Guedes não era o Posto Ipiranga?”. A mensagem soa como um indicador de que o mercado financeiro – representado no Parlamento pelo Novo – já não está tão alinhado com o ministro.
O ex-ministro do Comércio Exterior e presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP), que compõe o Centrão, publicou mensagem aos filiados de seu partido: “É preciso parar de ideologizar sobre política industrial como se fosse um tipo de marca registrada de governos socialistas”. Nas entrelinhas, uma cutucada em Guedes.
Liberal? – O principal plano do governo para tentar superar a crise causada pelo novo coronavírus, o Pró-Brasil é, na verdade, um pacote de obras públicas para aquecer a economia. Exatamente o contrário do que pregam liberais como Paulo Guedes. O Pró-Brasil, inclusive, foi chamado, internamente, de PAC 3, numa alusão ao Programa de Aceleração do Crescimento, que teve duas etapas durante o governo petista da ex-presidente Dilma Roussef.
Chamou a atenção, em seu lançamento, a ausência do Posto Ipiranga na cerimônia de apresentação do programa, conduzido pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto. Ficou evidente que Guedes não concordava com a iniciativa, embora ele ainda não tenha dito isso publicamente.
Diante de tantas evidências desconforto, são fortes as especulações de que Paulo Guedes é o próximo da fila a pedir o boné, desde as saídas de Henrique Mandetta do Ministério da Saúde e de Sergio Moro, da Justiça. E o risco se torna ainda maior por ser, agora, o ministro de maior prestígio na Esplanada dos Ministérios. Em tempos de Bolsonaro, isto é um perigo…