Desde que o mundo viveu a pandemia da covid-19, a prática de divulgar notícias falas, as “fake news”, revelou uma das piores facetas do ser humano: desumanizar tudo e transformar em narrativas políticas para favorecer este ou aquele grupo ideológico.
Além da tragédia real, o Rio Grande do Sul vive, desde 2 de maio, uma tragédia virtual maior do que a vista na pandemia. Políticos de direita e seus seguidores criaram uma “fábrica fake news”, que, neste episódio, assume a máscara perversa de provocar ou colaborar com a morte das vítimas da enchente gaúcha.
As duas mentiras mais recentes fizeram duas expedições de voluntários deixarem as bases, preocupadas com a situação de 40 crianças que apareciam em uma foto como se estivessem abandonadas em algum lugar do município de Canoas.
A outra foi a divulgação de uma foto de uma garota de aproximadamente 12 anos ilhada no segundo andar de uma casa de dois andares. Ao chegarem nos locais, as equipes não encontraram nada e concluíram que haviam saído para atender uma chamada falsa.
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), no meio da inundação, alertou os moradores da cidade que deveriam fazer a segunda evacuação de suas casas, alegando que as chuvas em vários pontos do Rio Grande do Sul tinham apertado mais uma vez.
Ele foi mais uma das vítimas de “fake news”. Percorreu pela rede que o prefeito tinha sido agredido, a cadeiradas, dentro de um abrigo de vítimas. Mas a “surra’ não era mais uma mentira.
Políticos – “Bandido é bandido, seja parlamentar, empresário, jornalista, qualquer um tem que ser responsabilizado”, afirma o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, uma das vítimas de “fake news” fabricada pelo prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin. Ele gravou um vídeo reclamando do repasse de R$ 300 mil para o município e dizendo que o dinheiro não daria para fazer nada.
O ministro também gravou a conversa e dá para ver claramente que as perguntas e respostas de Feltrin estão totalmente fora do contexto do que o ministro está falando. Com isso, a lacração de Feltrin acabou caindo por terra.
Outra lacração que aconteceu logo no início da tragédia e talvez tenha sido a precursora de todas, foi feita pelo governador do Rio Grande do Sul. Eduardo Leite (PSDB) fingiu estar cobrando de Lula ações para o estado, sendo que não estava falando com ninguém ao telefone e havia acabado de acertar com o vice-presidente Geraldo Alckmin todos os pontos de ajuda para os gaúchos.
Depois que o vídeo foi publicado, Lula publicou o vídeo verdadeiro e colocou o governador em maus lençóis. Ele acabou publicando uma nota em seu “X” reconhecendo o empenho e o trabalho do presidente Lula para o Sul.
Paulo Pimenta destacou que as pessoas que praticaram saques em lojas e residências inundadas ou estupros de mulheres e crianças nos abrigos serão identificadas.
Mentirosos
Entre as pessoas apontadas como produtoras de fake news estão o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), o jornalista Alexandre Garcia, o senador Jorginho Melo (PL-SC), o senador Cleitinho (Republicanos-MG), os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Filipe Martins (PL-TO), Gilvan da Federal (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), General Girão (PL-RN), Coronel Assis (União-MT), Coronel Ulysses (União-AC) e Nikolas Ferreira (PL-MG).
MP vai acionar autores
O governo federal pediu ao Ministério Público Federal e à PF que identifiquem quem está produzindo fake news e acionem a todos judicialmente. O ministro Paulo Pimenta destacou pelo menos duas mentiras.
A primeira, espalhada pelo senador Cleitinho (Republicanos-MG), dizia que os caminhões de ajuda aos gaúchos estavam sendo barrados pelos prefeitos do PT, que cobravam as notas fiscais das mercadorias.
A segunda foi divulgada pelo senador Flávio Bolsonaro, dizendo que o presidente Lula não estava fazendo nada para ajudar o Rio Grande do Sul.
O ministro defendeu que todos que estão praticando mentiras na rede, que atrapalham as ações do governo, que ficam desacreditadas, prejudicam os esforços para fazer evacuações de áreas e resgates de pessoas na tragédia.
Veja as 5 principais fake news desde 2 de maio
- afirmar que a resposta governamental tem sido insuficiente;
- negar a relação entre os eventos e as mudanças climáticas;
- inserir a tragédia nas pautas morais e em teorias da conspiração;
- inflar o papel de seus aliados na resposta à crise;
- se beneficiar da tragédia por meio de autopromoção, pedidos de doação e fraudes.