Trinta e cinco contas e 14 páginas que tinham 883 mil seguidores, e 1 grupo com 350 pessoas, todos no Facebook, e 38 contas no Instagram, com 917 mil seguidores, todas ligadas ao chamado gabinete do ódio, instalado no Palácio do Planalto, foram tiradas do ar nesta quarta-feira (8).
Os espaços eram administrados por funcionários ligados ao presidente da República, Jair Bolsonaro, e aos filhos dele, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). As contas também têm relações com funcionários dos deputados estaduais Alana Passos e Anderson Moraes (PSL-RJ).
A rede coordenada com comportamento inautêntico falava de política, memes, fazia ataques a adversários. Para isso, adotava páginas que se passavam por jornalistas ou veículos de imprensa (tudo falso). Os perfis, páginas e grupos controlados por essas pessoas impactava uma audiência de 2 milhões de pessoas, de acordo com o Facebook. Tudo saiu do ar.
A plataforma informou que as contas derrubadas agiam desde as eleições de 2018 para enganar sistematicamente o público, sem informar a verdadeira identidade dos administradores. O esquema alcançava uma audiência de 2 milhões de pessoas, segundo a empresa Digital Forensic Research Lab (DRFLab), especializada no combate à desinformação.
O DRFLab apontou que o assessor especial da Presidência da República Tércio Arnaud Thomaz é um dos responsáveis pela administração de algumas páginas. Entre elas, a “Bolsonaro Opressor 2.0”, no Facebook, e a @bolsonaronewsss, no Instagram.
“Muitas páginas do conjunto foram dedicadas à publicação de memes e conteúdo pró-Bolsonaro e atacavam rivais políticos. Uma delas foi a página anônima do Instagram @bolsonaronewsss. Mas as informações de registro encontradas no código fonte confirmam que pertence ao Tercio Arnaud.
O conteúdo era enganoso em muitos casos, empregando uma mistura de meias-verdades para chegar a conclusões falsas”, diz o relatório do DRFLab. Paulo Eduardo Lopes, o Paulo Chuchu, assessor de Eduardo Bolsonaro, é visto pelo DRFLab como “um dos principais operadores de rede”.
Os detalhes de toda a operação brasileira foram postados no site do Atlantic Council’s Digital Forensic Research Lab, instuição que realiza análise independente de remoções do Facebook por comportamento inautêntico coordenado.
O anúncio do Facebook faz parte de uma remoção de redes de desinformação que operavam em quatro territórios postando conteúdo relacionado a assuntos políticos domésticos. Além do Brasil, foram derrubadas redes nos EUA, na Ucrânia e na América Latina, incluindo países como El Salvador, Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Chile.
No caso brasileiro, as investigações e remoções ocorreram a partir de notícias na imprensa brasileira e referências feitas ao assunto no Congresso durante a CPMI das fake news. Nathaniel Gleicher, diretor de Cibersegurança do Facebook, foi cauteloso em apontar o envolvimento direto ou o conhecimento dos políticos na campanha, inclusive na coordenação das postagens.
“Não podemos afirmar a ligação direta das pessoas citadas, mas podemos afirmar que pessoas associadas a eles e a seus escritórios se envolveram em comportamento inautêntico na plataforma”. O Facebook identificou que um membro da rede é conectado ao vereador Carlos Bolsonaro e outro é contratado do deputado estadual Paulo Coronel Nishikawa (PSL-SP).
Segundo o executivo, não há indícios de que uma empresa foi contratada para realizar o trabalho, como aconteceu com a operação nos outros países latinos. A operação brasileira, porém, gastou US$ 1,5 mil em anúncios no Facebook e foram pagos em reais – cerca de R$ 8,03 mil na cotação desta quarta-feira (8).
Segundo a Atlantic Council, o envolvimento de funcionários de gabinetes pode indicar que a operação usou recursos públicos, pois as postagens eram feitas durante o horário regular de expediente.