Por Pollyanna Villarreal
No dia 29 de fevereiro, o Museu do Divino, em Pirenópolis, Goiás, deixará de ser o palco de uma das mais exuberantes atividades acadêmicas da rede pública de ensino do Distrito Federal. Ele recebe, desde o dia 8 de fevereiro, a 20ª edição da exposição fotográfica Re(vi)vendo Êxodos. A mostra, cuja inauguração ocorreu no dia 8/2, está aberta ao público todos os dias das 9h às 18h até o dia 29 de fevereiro. As fotografias apresentam uma leitura sobre os 60 anos de Brasília, a serem comemorados no dia 21 de abril deste ano.
Com 176 fotografias tiradas pelos estudantes que participaram do projeto desde 2001, a exposição apresenta 144 imagens em preto e branco e, 32, coloridas. A exposição é uma retrospectiva dos 20 anos do projeto pedagógico Re(vi)vendo Êxodos, que existe desde 2001 e desenvolve pesquisas nas áreas de identidade, patrimônio e meio ambiente.
A atividade cultural também comemora os 20 anos do projeto fotográfico e 15 anos de pesquisas de campo realizadas também pela atividade pedagógica no município de Pirenópolis. “A exposição acontece no Museu do Divino, em Pirenópolis, porque estamos fazendo uma retrospectiva dos seus 20 anos e Pirenópolis foi, desde 2005, a cidade mais visitada”, afirma Luiz Guilherme Moreira Batista, professor de história da rede pública de ensino do DF e coordenador do Re(vi)vendo Êxodos desde 2002.
NOVA DIMENSÃO
Ele informa que, o outro motivo da escolha de Pirenópolis foi o fato de que agora, 20 anos depois, ele quer dar outra dimensão ao projeto. “Quero que ele vá para outros lugares. Sempre fizemos exposições fora da escola porque é importante que a comunidade veja a importância e a qualidade da escola pública. Sou professor de escola pública e acredito muito no meu trabalho e na escola pública de qualidade”, afirma.
Todo ano o projeto sai de Brasília com os estudantes para visitar cidades históricas, como Corumbá, Cavalcante, Pirenópolis, Cocalzinho, Urucuia, Sagarana, Chapada Gaúcha, tudo ao redor do DF. , remontando a época e passando pelas cidades que foram base da Missão Cruls. “Passamos a escolher, desde 2008, cidades a partir da obra de Guimarães Rosa. Visitamos essas cidades para os estudantes mergulharem no ‘nesse Brasil profundo’, ou seja, ‘nesse mar’ profundo que Darcy Ribeiro denominava de ‘mar interior de Brasil profundo’”, explica o professor.
Milhares de estudantes participaram do projeto. “Desse número enorme de participantes, desde 2001, tenho centenas que, desde 2004, integraram a caminhada – que é um processo específico dentro do projeto e envolve uma pesquisa de campo de duas semanas, caminhando a pé por cerca de 300 quilômetros em um trecho que a gente normalmente escolhe sempre em outubro, época da seca”. A caminhada põe e marcha, todo ano, no mínimo, 90 estudantes. Mas todos os estudantes da escola, mais de mil, participam da pesquisa bibliográfica e da de campo.
RESISTÊNCIA CULTURAL
Luiz Guilherme se aposentou no fim de 2019, mas vai continuar no projeto. “Porque temos de resistir. Acredito na escola pública, gratuita, laica, de qualidade socialmente referenciada, inclusiva, presencial, emancipadora, com liberdade de gênero, sexual, com respeito, com produção acadêmica, com trabalho sério, formando cidadãos e cidadãs críticos e um país desenvolvido. É essa a escola que faço por onde aconteça porque é nessa escola que acredito”.
O Projeto Re(vi)vendo Êxodos é coletivo. “Não existe ninguém fazendo nada sozinho. Ele é construído juntamente com os monitores, professores parceiros, escolas parceiras, apoiadores, como o Exército, que acompanha a caminhada, a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, o Iphan que foi parceiro durante muitos anos, ICMBio, Ibama”.
Ele diz que a exposição também é importante para dar visibilidade à escola pública “que está sofrendo com falta de investimento dos governos federal e distrital”. Ele conta que as turmas viajam para duas, três cidades durante o ano. “Já viajamos até para cinco cidades, quando tínhamos mais dinheiro do MEC e da Secretaria de Educação. Estamos cada vez com menos dinheiro, menos apoio, menos patrocínio do Estado. É assustador o que está acontecendo com a educação.
O professor afirma, ainda, que das centenas de estudantes que participaram do projeto, um pequeno número ainda permanece mesmo tendo concluído o Ensino Médio há anos. “São monitores cujas idades variam de 19 a 30 anos. Agora queremos mostrar isso para outros lugares que investem em outros modelos de educação. Acho que é um equívoco a militarização das escolas. Por isso temos de mostrar que arte, educação e cultura, patrimônio, memória são ferramentas importantes e essenciais para se garantir qualidade do ensino”, declara.
O projeto é pedagógico Re(vi)vendo Êxodos “começou, em 2001, quando levamos estudantes de 2º e 3º Anos do Ensino Médio para visitar a exposição Êxodos, do fotógrafo Sebastião Salgado”, informa o professor. Inspirados nessa exposição, um grupo de professores e estudantes propuseram, à escola, o Projeto Re(vi)vendo Êxodos, que envolve um profundo trabalho pedagógico em sala de aula com divisões em grupos, leituras de muitas obras, estudos aprofundados, seminários, debates, apresentações, entre outras atividades acadêmicas.
Na primeira versão, os estudantes encontraram dentro do Distrito Federal todos os temas apresentados que Sebastião Salgado apresentou na exposição dele com imagens de vários países. A obra dos estudantes foi um sucesso. A exposição de fotografia foi realizada, pela primeira vez, no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, local em que foram feitas quase todas as outras exposições do projeto.
O Museu do Divino fica aberto todos os dias, de 9h às 17h. Ele se situa na antiga casa de Câmara e Cadeia e se localiza perto da ponte de madeira em Pirenópolis. Há 2 anos, foi lançada a revista Caminhos. Ela trata dos conteúdos das áreas abordadas pelo projeto. Clique aqui e confira mais fotografias da exposição.