O deputado federal André Janones (Avante-MG) investiu o equivalente a 29 salários mínimos, quase R$ 45 mil, em impulsionamento para defender o presidente Lula nas redes sociais somente no último mês de dezembro. O valor foi pago com recursos da cota parlamentar, conforme nota fiscal disponível no site da Câmara dos Deputados.
De perfil provocador, Janones é conhecido por ser um dos únicos parlamentares aliados do governo a confrontar bolsonaristas no ambiente digital. No período, ele investiu principalmente em conteúdos que trataram do veto de Lula ao projeto de lei 4614/2024, cujo um dos autores é o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
O texto da proposta diz que a finalidade é “racionalizar despesas públicas primárias, com vistas a aperfeiçoar o orçamento público”. Segundo a interpretação de Janones em um dos conteúdos impulsionados, alguns artigos, vetados por Lula, “prejudicariam as pessoas com autismo e outras deficiências leves” no pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), também destinado a idosos de baixa renda.
Comparação
Em 2024, André Janones investiu um total de R$ 55.967,48 em impulsionamento no Facebook e Instagram. Foram R$ 4.951,99 utilizados em janeiro, e R$ 6.016,15 em março. A maior parte do dinheiro, contudo, foi aplicada em dezembro: R$ 44.999,34.
“Impulsionar conteúdos no Facebook e Instagram é divulgar a atividade parlamentar, que é justamente um dos objetivos da cota. Discutir se deveria ou não existir é outro problema. Mas já que existe, deve ser utilizada por quem está em mandato. Não é pecado nenhum”, afirma Júlio Pontes, especialista em marketing político e digital.
Para Pontes, outros parlamentares da base governista deveriam fazer o mesmo que Janones. “Isso poderia, quem sabe, reverter a desaprovação do governo”, acredita.
O que é cota parlamentar?
A Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP), segundo a Câmara dos Deputados, “é um benefício que deve ser utilizado pelo deputado para custear despesas típicas do exercício do mandato parlamentar, como aluguel de escritório de apoio ao mandato no estado, passagens aéreas, alimentação, aluguel de carro e combustível”, menciona o site da Casa.
“O saldo mensal não utilizado em um mês acumula-se ao longo do exercício financeiro, vedada a acumulação de um exercício financeiro para o seguinte”, diz outro trecho.